sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Planos de 2013

Consegui terminar no prazo a dissertação, que está em fase de revisão por parte do queridíssimo orientador. Pretendia tirar uma semana de férias, mas acabei precisando de um mês (espero que não precise de mais do que isso!!)

Arquivos já organizados da dissertação, a versão enviada para o Ileno:
https://www.dropbox.com/sh/xqb5y9kucx7n18o/odPCnT2I6U

Sobre a dissertação, o que ainda falta:
- mega-super revisão final
- elaboração dos slides e texto da apresentação da defesa
- ensaios da defesa (no gipsi e com amigos)
- burocracia de agendar a defesa, convidar a banca etc.

Planos para 2013:
- Elaborar artigos para publicação do GIPSI (FEVEREIRO!):
---Acolhimento das crises encaminhadas, identificação de pródromos e encaminhamentos
---Psicose e Sofrimento Psíquico Grave no Rorschach
---Psicodiagnóstico e Psicopathologia (já submetido)

- Submeter projeto de pesquisa para o edital da Fundação Biblioteca Nacional para Pesquisadores Negros (tema? Saúde Mental da População Negra... - MARÇO!
http://saudementaldapopulacaonegra.blogspot.com.br/

- Submeter resumo para o Colóquio Internacional Winnicott (tema? resumo da dissertação!) MARÇO

- Atendimento de clientes GIPSI
- Oficinas e grupos de estudo GIPSI (elaboração artigos científicos, psicanálise e Rorschach)

- Elaboração do anteprojeto para inscrição na seleção do doutorado (ABRIL! tema: teoria winnicottiana de pródromos - precisarei enfiar o Rorschach em algum lugar...)

- Regina Spektor!! 10 ou 11 de abril (:

- Aulas no IESB: Psicopatologia e Técnicas projetivas (JULHO!)
- Procurar outras instituições depois da defesa
- Procurar investir na clínica particular...

- Doutorado.......

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Produção fim de 2012

Terminando o terceiro semestre do mestrado, finalizando também a dissertação. Eu havia me dado o prazo de, até dia 31 de dezembro, finalizar a escrita do capítulo de discussão e o de resultados. Acho que vou conseguir cumprir esse prazo, só tenho amanhã e depois pretendo tirar pelo menos uma semana de férias total da dissertação, da UnB, da vida e do mundo. Voltarei somente na próxima terça-feira.
Tomara que eu consiga terminar amanhã.
Vai ficar faltando o resumo e o abstract, além da super-mega revisão final. Aí, outros planos e outros projetos aguardam.
Vem, 2013.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Objetos transicionais e fenômenos transicionais

Winnicott, D. W. (1951). Objetos transicionais e fenômenos transicionais. In: Winnicott, D. W. (1988). Textos selecionados: da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: F. Alves, pp. 389-408.

"É costume fazer referência ao 'teste de realidade' e efetuar uma distinção clara entre apercepção e percepção. Reivindico aqui um estado intermediário entre a inabilidade de um bebê e sua crescente habilidade em reconhecer e aceitar a realidade. Estou, portanto, estudando a substância da ilusão, aquilo que é permitido ao bebê e que, na vida adulta, é inerente à arte e à religião. Podemos compartilhar do respeito pela experiência ilusória e, se quisermos, reunir e formar um grupo com base na similaridade de nossas experiências ilusórias. Essa é uma raiz natural do agrupamento entre seres humanos. No entanto, ela se torna a marca distintiva da loucura quando um adulto exige demais da credulidade dos outros, forçando-os a compartilharem de uma ilusão que não é própria deles" (p. 391).

"A área intermediária a que me refiro é a área concedida ao bebê, entre a criatividade primária e a percepção objetiva baseada no teste de realidade" (p. 402).

Presume-se aqui que a tarefa de aceitação da realidade nunca é completada, que nenhum ser humano está livre da tensão de relacionar a realidade interna e externa e que o alívio desta tensão é proporcionado por uma área intermediária de experiência" (p. 404).

FQu como um tipo de percepção "intermediária": acurada, mas também saturada de subjetividade.

Se um adulto nos reivindicar a aceitação da objetividade de seus fenômenos subjetivos, discerniremos ou diagnosticaremos nele loucura. Se, contudo, o adulto consegue extrair prazer da área intermediária pessoal sem fazer reivindicações, podemos então reconhecer nossas próprias e correspondentes áreas intermediárias, agradando-nos descobrir certo grau de sobreposição, isto é, de experiência comum entre membros de um grupo na arte, na religião ou na filosofia" (p. 405).


Psicose e cuidados maternos

Winnicott, D. W. (1952). Psicose e cuidados maternos. In: Winnicott, D. W. (1988). Textos selecionados: da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: F. Alves, pp. 375-387.

Mais do que pensar a saúde do adulto na criança (em termos de prevenção), "a saúde do adulto é estabelecida em todos os estádios da infância" (p. 376).

"A saúde mental, portanto, é um produto do cuidado contínuo que torna possível uma continuidade do crescimento emocional pessoal" (p. 376-373).

Estádios primitivos do desenvolvimento emocional
Unidade: organização meio-indivíduo



área transicional: zona de compromisso que não é contestada (você criou ou já existia? Pergunta absurda)

Loucura: permitida ao bebê, lentamente afogada pelo teste de realidade.

Ao adulto, descanso só nas ares, religião, trabalho criativo, sonho.
O resto (exigência demasiada) é psicose.


Tanto mais falho é o ambiente, mais o segredo é incomunicável.


O falso self é construído na submissão às intrusões ambientais - é satisfatório pois contém as características do ambiente, mas só serve para proteger o verdadeiro self.

Pseudomaturidade em ambiente psicótico (p. 382). Palazzoli novamente.

Os processos mentais lidam com os fracassos do meio, ligam a lacuna existente entre a adaptação completa e a incompleta: predição, compreensão, tolerância.

Não-integração --> Humpty Dumpty --> integração ------paranoico?---------> desintegração

Pediatria e psiquiatria

Winnicott, D. W. (1948). Pediatria e psiquiatria. In: Winnicott, D. W. (1988). Textos selecionados: da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: F. Alves, pp. 237-311).

A relação com a realidade externa
Voracidade: amor por interesse
Relação objetal: o objeto está dentro ou fora?

A mãe permite a ilusão de que o bebê criou o seio - satisfação pulsional, união emocional e "início da crença na realidade como algo acerca da qual se pode ter ilusões" (p. 296).

Depois, a desilusão gradual (desmame)

Para Winnicott, a objeção de que não há, de fato, contato direto com a realidade não faz sentido em psicopatologia, já que "a maior parte das pessoas usa tão bem aquilo que é objetivamente observado e esperado, que pode passar sem alucinações, a não ser no cansaço ou fraqueza provocados por exaustão física" (p. 296).

Ajustamento bom devido à submissão (atitude submissa)




Desenvolvimento emocional primitivo


Winnicott, D. W. (1945). Desenvolvimento emocional primitivo. In: Winnicott, D. W. (1988). Textos selecionados: da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: F. Alves, pp. 269-285.

1- integração (unidade)                  -                                  I
2 - personalização (indwelling, conluio psicossomático) - AM
3 - realização (tempo, espaço, realidade "partilhada") - ALONE

"Por vezes, se supõe que o indivíduo saudável está sempre integrado, vivendo dentro do próprio corpo e capaz de sentir que o mundo é real. No entanto, muitas vezes a saúde tem uma qualidade sintomática, estando carregada de medo ou negação da loucura, medo ou negação da capacidade inata que todo ser humano tem de se tornar não-integrado, despersonalizado, e de sentir que o mundo é irreal" (p. 276).

Não integração ----> integração parcial (dissociações):
-Estados tranquilos X excitados;
-O bebê tranquilo e satisfeito é o mesmo quando está excitado e tenso?
-A mãe construída através das relações tranquilas é a mesma por trás do seio que o bebê quer destruir?
-A criança que dorme X a criança acordada

Adaptação à realidade
contradições: o objeto foi alucinado ou está lá para ser percebido? Pergunta inútil.

A ideia é enriquecida pelos sentidos, material que será utilizado quando a necessidade advier (e a nova alucinação ocorrer). O bebê evoca o que realmente existiu; ou o que foi-lhe oferecido pela mãe como fragmento de realidade simplificado.

Quando a realidade externa é aceita, verifica-se o uso que se pode fazer dela (para que serve?) O leite real é gratificante, comparado ao leite imaginário (alucinado), mas o bebê pode mesmo usá-lo?

Fantasia: mágica, amor e ódio não têm freios.
Não desejar, como resultado da satisfação, é aniquilar o objeto.

Ilusão: tonar alucinação como apresentação (de objetos).

Crueldade primitiva: relação objetal em que não há preocupação com os efeitos da ação sobre o objeto (ruthlessness).

Retaliação primitiva: a sucção do dedo ou o roer das unhas volta o amor para dentro, preserva o objeto do amor e do ódio.

Localiza o objeto a meio caminho entre o dentro e o fora (área transicional): o objeto é parte do self, como a pulsão que o evoca.


Retraimento e regressão

Winnicott, D. W. (1954). Retraimento e regressão. In: Winnicott, D. W. (1988). Textos selecionados: da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: F. Alves, pp. 425-435.

Retraimento: desligamento momentâneo da relação desperta com a realidade externa, um breve sono.

Regressão: à dependência
                  às zonas erógenas
                  (ao processo primário?)

Retraimento --------|--------> Regressão
                       HOLDING

A dependência pode ser dolorosa de aguentar: para regredir é importante estar certo de que há um meio suficientemente bom: sensível e devotado às necessidades, previsível, indestrutível (não retaliador, é capaz de sobreviver por si próprio, não precisa ser protegido).

A mente e sua relação com o psique-soma

Winnicott, D. W. (1949). A mente e sua relação com o psique-soma. In: Winnicott, D. W. (1988). Textos selecionados: da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: F. Alves, pp. 409-425.

Psique: "elaboração imaginativa de partes, sentimentos e funções somáticas"

A inter-relação entre a psique e o soma constitui uma fase inicial do desenvolvimento. Posteriormente, "o corpo vivo, com seus limites, e com um interior e um exterior, é sentido pelo indivíduo como formando o cerne do self imaginativo"

A mente tem a raiz na necessidade que o bebê tem de um ambiente perfeito. Na medida em que este fracassa, a atividade mental o compreende, compensa e transforma em sucesso adaptativo.
"Se ela [a mãe] é suficientemente boa, o bebê se torna capaz de compensar suas [dela] deficiências através da atividade mental. (...) A atividade mental do bebê transforma o relativo fracasso de adaptação em sucesso adaptativo. O que livra a mãe da necessidade de ser quase perfeita é a compreensão do bebê" (pp. 412-413).

Algo ocorre neste processo que torna o bebê (a criança) incapaz de inscrever, em sua atividade mental, um tipo específico de fracasso ambiental. A demanda real da ameaça de castração, ou seja, de que há limites sociais para a realização do desejo, é rejeitada por um tipo específico de bebê. Podemos nos arriscar a dizer que, para este tipo de bebê, houve um jogo oculto entre os pais, em que o bebê esteve envolvido por meio de uma promessa feita também às ocultas: de que o bebê era aliado, parte de um dos pais (contra o outro). Desta forma, houve comprometimento no estabelecimento de uma relação triádica entre pessoas totais, o que é base do conflito edípico e da constituição do complexo de castração e do complexo edípico. Ao contrário, pode ser difícil estabelecer limites entre o que é subjetivo e objetivo, dado que o bebê precisou responder a uma demanda feita pelo meio, intrusiva, e não um movimento natural de sua continuidade de ser.

Mente-psique patológica, em oposição ao psique-soma original: "Como resultado mais comum de um grau pequeno de cuidado materno torturante nos estádios iniciais da vida infantil, o funcionamento mental torna-se uma coisa em si, praticamente substituindo a mãe boa e tornando-a desnecessária. Clinicamente, isso pode acompanhar uma dependência da mãe real e um crescimento pessoal falso com base na submissão. Esse é um estado de coisas extremamente desconfortável, especialmente porque a psique do indivíduo de deixa 'atrair' por essa mente, afastando-se do relacionamento íntimo que originalmente mantinha com o soma. O resultado é uma mente-psique, que é patológica." (p. 414).

Crescimento excessivo da função mental como relação a uma maternagem inconstante. O pensamento do indivíduo começa a controlar e organizar os cuidados a serem dispensados ao psique-soma, ao passo que na saúde, isto é uma função do ambiente.

A falsidade do conceito de mente como fenômeno localizado
"O curioso atualmente é que, de novo, no pensamento médico científico, o cérebro foi igualado à mente, que um certo tipo de doente sente como uma inimiga, e uma coisa dentro do crânio" (p. 423).

Por que a cabeça?
"Sinto que a necessidade do indivíduo de localizar a mente por ser ela um inimigo, isto é, para controlá-la, é um ponto importante. Um paciente esquizoide me diz que a cabeça é o lugar onde se deve por a mente porque como não se pode ver a cabeça, ela não existe de maneira óbvia, como parte de nós mesmos" (p. 415).

"Podemos ver que um dos objetivos da doença psicossomática é atrair a psique para longe da mente, de volta à associação íntima original com o soma".

Fracasso excessivo da adaptação ativa do meio às necessidades do indivíduo: além da capacidade de compreensão ou de predição. Em vez de odiar, o indivíduo deixa-se desorganizar pelos fracassos do meio, porque estes existiram antes da experimentação dos impulsos libidinais amorosos fundidos aos agressivos; isto é, a desorganização se dá porque o indivíduo é, ainda, incapaz de amar ou odiar.

A aceitação do não-saber produziu um enorme alívio. 'Saber' transformou-se em 'o analista sabe', isto é, 'comporta-se fidedignamente, adaptando-se às necessidades do paciente'. Toda a vida da paciente havia sido construída em torno do funcionamento da mente, que controla e regula suas necessidades, mais do que um psique-soma que experimenta e cria.

Sobre "O Uso de um Objeto"

Explorações psicanalíticas, 1963-1968, pp. 170-191.

"O princípio é que é o paciente, e somente ele quem tem as respostas" (p, 171-172).

Borderline: "o cerne do distúrbio do paciente é psicótico, mas ele possui sempre suficiente organização psiconeurótica para ser capaz de a´resentar uma psiconeurose ou um transtorno psicossomático quando a ansiedade psicótica central ameaça irromper de forma grosseira".

Relação com objetos
Catexoa: o objeto se torna significante, o sujeito está esvaziado a um ponto em que algo dele é encontrado no objeto (a pulsão que o originou).
O uso do objeto demanda um objeto real (e não um feixe de projeções).

Princípio da realidade
capacidade de usar objetos
                          ------> colocação, pelo sujeito, do objeto como fenômeno externo, fora do controle onipotente.
~~~o objeto tem estatuto de um objeto por si próprio.

O sujeito destroi o objeto.

Relacionar-se ----> destruir -------> o objeto sobrevive ------> FANTASIA E USO
(subjetivo)            (objetificar)

Um objeto que é destruído por ser real e se torna real por ser destruído.

"Enquanto o sujeito não destroi o objeto subjetivo (material de projeção), a destruição aparece e se torna um aspecto central na medida em que o objeto é objetivamente percebido e pertence à realidade 'partilhada'" (p. 174).

A destruição desempenha seu papel de construção da realidade, situando o objeto fora do self. Se o objeto sobrevive após a destruição, ou seja, não retalia, o indivíduo pode entender esse objeto como algo não eu (e minimamente persecutório), situado fora do controle onipotente, do lado de fora, no mundo.

"Se fôssemos melhores em diagnóstico, pouparíamos a nós mesmos e a nossos pacientes um bocado de tempo e desespero" (p. 182).

O pensar e a formação de símbolos


Winnicott, D. W. (1968). Alucinação e desalucinação. In: Winnicott, C; Shepherd, R. & Davis, M. (Orgs.) (1994). Explorações psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 167-169.

"O pensar começa como uma maneira pessoal que o bebê tem para lidar com o fracasso graduado de adaptação da mãe. O pensar faz parte do mecanismo pelo qual o bebê tolera tanto o fracasso da adaptação à necessidade do ego, quanto a frustração do instinto que produz tensão-tensão, particularmente o primeiro"

Quando a adaptação não é suficientemente boa, temos:
-funcionamento mental tornando-se uma coisa em si (mente-soma)
-dependência da mãe real e falso crescimento pessoal, com base na submissão.

A dependência da mente assume o lugar da mãe suficientemente boa. O falso self se forma um intelecto explorado para fazer às vezes do cuidado materno.

Alucinação e desalucinação

Winnicott, D. W. (1957). Alucinação e desalucinação. In: Winnicott, C; Shepherd, R. & Davis, M. (Orgs.) (1994). Explorações psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 33-35.

"Amiúde me impressiona, como sendo uma dificuldade que não enfrentamos, que às vezes dizemos que um paciente está alucinando e tomamos isso como prova de psicose" (p. 33)

Pergunta: "existe alguma diferença entre as alucinações que denotam enfermidade e aquelas que não possuem tal significação?"

Alucinar normal X patológico

No alucinar patológico, "algo foi desalucinado e, de maneira secundária, o paciente alucina em denegação da desalucinação.
É complexo porque, primeiramente, houve algo que foi visto, depois algo desalucinado e, então, uma longa série de alucinações que, por assim dizer, preenchem a lacuna produzida pela escotomização" (p. 34).

Um tipo especial de alucinar que é compulsivo e assustador, apesar do fato de que o que é alucinado não constituir, em si mesmo, uma ameaça.


Ansiedades psicóticas e prevenção

Little, M. I. (1992). Ansiedades psicóticas e prevenção: registro pessoal de uma análise com Winnicott. Rio de Janeiro: Imago.

Psicose: doença por carência ambiental, exige volta ao tempo em que a deficiência ou adequação do ambiente era muito importante, pois o verdadeiro self ainda pode esperar uma reversão do fracasso original, encontrando no analista uma adaptação suficiente para suas necessidades.

Na caracterização do que é psicose, mais do que sintomas (alucinações ou delírios), a vivência de agonias impensáveis.

A mãe também pode sentir algum grau de ansiedade de aniquilação relativa à ideia de separar-se do seu filho ou de que aquele bebê é uma pessoa separada dela.

Possíveis defesas contra um ambiente intrusivo:
-retraimento
-identificação com o ambiente, partilha da ilusão primária de estar integrado a ele (cisão e falso self).

Na regressão à dependência, não há formação de símbolos; as coisas são. O analista é a mãe, suas mãos são o cordão umbilical, o divã é a placenta.

Regressão e organização defensiva

Winnicott, D. W. (1967). O conceito de regressão clínica comparado com o de organização defensiva. In: Winnicott, C.; Shepherd, R. & Davis, M. (1994). Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 151-156.

"Podemos adotar este curso, acredito, sem nos separar da fonte de nosso trabalho, que deve ser sempre os seres humanos que vêm até nós ou que nos são trazidos por causa das dificuldades da vida" (p. 151).

Esquizofrenia -- regressão
                     -- organização de defesas

Seja lá o que for que já é conhecido ou será descoberto a respeito da bioquímica, da neuropatologia ou da farmacologia relativa à esquizofrenia, existirão ainda lá os pacientes, pessoas como nós, com uma história em casa caso do desencadeamento do transtorno e com uma carga de esforço e sofrimento pessoais, com um meio ambiente que é simplesmente mau ou bom ou, então, que confunda a um grau que pode ser desnorteante até mesmo relatar" (p. 152).

No contexto da psicose, o enunciado do desenvolvimento em termos de progressão de zonas erógenas não é tão útil quanto o é a ideia da progressão da dependência absoluta rumo à independência ----> provisão ambiental.

No desenvolvimento da criança psicótica, o meio ambiente pode continuar a ser um fator adverso, por causa do fracasso do indivíduo em obter suficiente autonomia: Envolvimento do paciente identificado no jogo do casal: Palazzoli)

Na psiconeurose, ao contrário, a pista para o conflito subjacente reside dentro do indivíduo.

Em contraste, a psicose envolve as pessoas na elucidação de uma cisão na pessoa do paciente, o extremo de uma dissociação: "A cisão toma o lugar do inconsciente reprimido do psiconeurótico" (p. 152).

A cisão pode aparecer em várias formas de dissociação:
-Falso e verdadeiro self;
-Vida intelectual ex-cindida do viver psicossomático (mente-psique)

Uma pessoa pode padecer de expectativas patológicas oriundas do meio ambiente.

Mara Selvini Palazzoli também sabe disso, Winnicott!

A dependência inicial continua a ter significado, especialmente na adolescência e, talvez, de maneira disfarçada, através de toda a vida.

As crianças que não foram significantemente decepcionadas na etapa de dependência absoluta puderam construir uma estrutura de autoconfiança sobre a acumulação da confiabilidade introjetada. Elas acreditam na realidade e confiabilidade de si mesmas e do mundo. É difícil entender uma outra criança que carrega consigo, por toda a vida, agonias impensáveis decorrentes de deficiências na confiabilidade do meio. Um ambiente instável fracassa por ser imprevisível e intrusivo: ele interrompe a continuidade do ser e exige que o bebê reaja (falsamente, não por impulso próprio).

Regressão: retroação em direção oposta ao desenvolvimento, seja por bloqueio ao crescimento, seja por uma provisão ambiental que permita a dependência.

A regressão à dependência, mais ou menos relativa, mais do que uma ou outra zona erógena especifica.

As agonias impensáveis  estão relacionadas à fração de segundo antes da organização de novas defesas frente ao trauma (que é o impacto provindo do meio ambiente antes que o indivíduo possa prevê-lo, compreendê-lo e tolerá-lo).
Elas podem ser classificadas em termos da quantidade de integração que sobrevive ao ataque.
O resultado do trauma é certo grau de distorção no desenvolvimento: "a raiva implicaria a sobrevivência do ego e uma retenção da ideia de uma experiência alternativa em que o 'desapontamento' não ocorreu"

Pânico: horror organizado para proteger o indivíduo contra o impredizível (num momento tal de dependência que o indivíduo não poderia suportar tamanho fracasso).

Abandonar a invulnerabilidade (autismo) criada pelos medos e tornar-se sofredor.

"Escolher" a deficiência mental ao horror do sofrimento vinculado ao viver genuíno.

"À medida que progredimos e o paciente alcança confiança em nós em grande escala, então nossos equívocos e fracassos se tornam novos traumas. Aprendemos a esperar uma sensibilidade crescente por parte do paciente e começamos a imaginar se é a bondade ou a crueldade que nos motiva" (p. 155).

A Psicologia da Loucura e o conceito de trauma

Winnicott, D. W. (1965). A psicologia da Loucura: Uma Contribuição da Psicanálise. In: Winnicott, C.; Shepherd, R. & Davis, M. (1994). Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 94-101.

"Por 'psicose' se quer dizer uma enfermidade que tem seu ponto de origem nos estágios do desenvolvimento individual anteriores ao estabelecimento de um padrão individual de personalidade (p. 95)".

Posso incluir na necessidade da intervenção precoce multidisciplinar intensa uma possível explicação da relutância dos psiquiatras não-psicodinâmicos em aceitar a esquizofrenia como um fenômeno psicológico:
"Todo psiquiatra possui uma carga imensa de casos graves. Está sempre sendo ameaçado pela possibilidade de suicídio entre os pacientes que se acham a seu cuidado imediato e existem pesados ônus associados com a tomada de responsabilidade pela certificação e decertificação, bem como com a prevenção de ciosas como o assassinato e o mau trato de crianças. Além disso, o psiquiatra tem de lidar com a pressão social, uma vez que todos aqueles que precisam de proteção quanto a si próprios ou precisam ser isolados da sociedade inevitavelmente vêm acabar sob os cuidados dele e, ao final, não pode recusá-los (pp. 95-96)".

"Deve-se deixar aberta a porta para a formulação de uma teoria em que uma certa experiência de loucura, seja o que for que isso possa significar, é universal"

Medo da loucura: elementos que se acham fora do funcionamento da lógica

A loucura original pertence a um estágio muito anterior à organização no ego dos processos mentais que abstraem as experiências catalogadas e apresentam-nas ara uso em termos de lembrança consciente.
"A loucura que tem que ser lembrada só pode ser lembrada em seu reviver (p. 98)".

"O paciente acha-se então sob uma compulsão - surgida de alguma premência básica que os pacientes têm no sentido de tornarem-se normais - de chegar à loucura e a necessidade de ser louco. (...) Pode-se ver, que se, em tal caso, o colapso é atendido por uma premência psiquiátrica à cura, todo o sentido do colapso é então perdido, pois, ao entrar em colapso, o paciente tinha um objetivo definido e o colapso não é tanto uma enfermidade quanto um primeiro passo no sentido da saúde (p. 99)".

As defesas se organizam em torno da ansiedade:
"no caso mais simples possível, houve portanto uma fração de segundo em que a ameaça da loucura foi experienciada, mas a ansiedade [ou agonia] neste nível é impensável. Sua intensidade acha-se mais além da descrição e novas defesas organizaram-se imediatamente, de maneira que a loucura, de fato, não foi experienciada. Por outro lado, contudo, ela foi potencialmente um fato (p. 100, grifo meu)".

--
O conceito de trauma em relação ao desenvolvimento do indivíduo dentro da família (1965, pp. 102-105)

A natureza do trauma envolve fatores externos, ou seja, é do domínio da dependência. O trauma rompe a idealização do objeto pelo ódio advindo do indivíduo. O ódio é reativo ao fracasso desse objeto em desempenhar sua função: uma adaptação perfeita. Em certa medida, todos somos "traumatizados" por fracassos do ambiente, mas apenas quando a falha ocorre em um tempo ou dimensão que são incompreensíveis para o bebê, ou que ele seja incapaz de tolerar, aí sim decorre um trauma no sentido estrito do termo.

Medo do colapso

Winnicott, D. W. (1963). O medo do colapso. In: Winnicott, C.; Shepherd, R. & Davis, M. (1994). Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 70-76.

Experiências passadas do indivíduo e caprichos ambientais.
Colapso (breakdown): fracasso da organização defensiva.

"Notar-se-á que embora haja valor em pensar que, na área das psiconeuroses, é a ansiedade de castração que faz por trás das defesas, nos fenômenos mais psicóticos que estamos examinando é um colapso do estabelecimento do self unitário.
O ego organiza defesas contra o colapso da organização do ego e é esta organização a ameaçada. Mas o ego não pode se organizar contra o fracasso ambiental, na medida em que a dependência É um fato da vida" (p. 71)

-Inversão do processo de amadurecimento

Holding --> Handling --> object presenting

Desenvolvimento integrador
Indwelling (personalização): conluio psicossomático ----> relacionamento objetal

Agonias primitivas
-Retorno à não-integração --- defesa: desintegração)
-Cair para sempre (gravidade) --- defesa: self holding
-Perda do conluio psicossomático --- defesa: despersonalização
-Perda do senso de real --- defesa: exploração do narcisismo primário
-Perda da capacidade de relacionamento de objeto --- defesa: estado autista

A enfermidade psicótica como defesa
A agonia subjacente à defesa é impensável. A enfermidade psicótica é "uma organização defensiva relacionada a uma agonia primitiva, e é geralmente bem-sucedida (exceto quando o meio ambiente facilitador não foi deficiente, mas sim atormentador, que é talvez a pior coisa que pode acontecer a um bebê humano)" (p. 72).



O medo do colapso é o medo de um colapso que já foi experienciado.
"É um medo da agonia original que provocou a organização de defesa que o paciente apresenta como síndrome de doença.
A experiência original da agonia primitiva não pode cair no passado a menos que o ego possa primeiro reuni-la dentro de sua própria e atual experiência temporal e do controle onipotente agora (p. 73)".

A agonia original é um fato que o indivíduo carrega consigo, escondido no inconsciente que é tudo aquilo que foi vivido, mas que a integração do ego não foi capaz de abranger na área de onipotência. A regressão à dependência, na análise, permite ao indivíduo reviver a agonia na transferência e, se o analista foi suficientemente bom, tornar o inconsciente (não reprimido, mas não integrado) capaz de emergir à consciência. Caso contrário, o indivíduo busca o detalhe passado no futuro: a agonia primitiva passada se transforma, definitivamente, em ansiedade (e, consequentemente, em medo).

A transferência permite que o indivíduo gradualmente reúna o fracasso original do meio ambiente, atualizado nas falhas do analista, dentro da área de sua onipotência.

O diacrônico impossível e esquisito se torna sincrônico e possível. Libertador.

O medo da morte é similar ao medo do colapso e, no mais das vezes, faz uso da religião para ser negado e postergado para o futuro mais distante.
Morte fenomenal: envio do corpo a uma morte que já aconteceu na psique (suicídio).

"Tudo o que lhe peço é que me ajude a cometer suicídio pela razão certa e não pela razão errada".
A alternativa delirante: eu estou morto - querem me matar.

A morte, para o ego primitivo, é o aniquilamento: a continuidade do ser é interrompida para sempre; isto é, não há como entender que a intrusão terá fim (uma espera de meia hora para um recém-nascido?)

Medo do vazio: nada de proveitoso aconteceu quando poderia ter acontecido.

O vazio primário é o antes de começar a se encher. "Na prática, a dificuldade é que o paciente teme o horror do vazio e, como defesa, organizará um vazio controlado, não comendo ou não aprendendo, ou então, impiedosamente o encherá por uma voracidade que é compulsiva e parece louca. Quando o paciente pode chegar ao próprio vazio e tolerar esse estado por causa da dependência no ego auxiliar do analista, então receber em si pode começar a ser uma função prazerosa" (pp. 75-76).

Na análise de psicóticos, experienciar equivale ao lembrar da análise dos neuróticos. Em ambos os casos, apenas na transferência a regressão, e consequente afrouxamento das feresas, é possível.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Revisão disserta - volume 3

And I'm backing up
backing up
backing up
'cause my daddy taught me good

Dissertação Hayanna Carvalho - Revisão 3

Essa tem introdução (weee~~/o/ mas falta revisar) e atualizei a parte sobre a teoria freudiana das psicoses. 119 páginas. Onde isso vai parar?

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os jogos psicóticos na família

Palazolli, Mara Selvini, Cirillo, S., Selvini, M. & Sorrentino, A. M. (1998). Os jogos psicóticos na família. São Paulo: Summus.

Uma escolha que se abre à família (não realmente livre, mas assim esclarecida pode ser também re-possuída de seus determinantes afetivos e sociais):
"vale a pena tentar, à espera de oferecer ao filho uma vida digna de ser vivida mas aceitando, concomitantemente, o risco de que o rapaz escolha, ao invés disso, morrer? Ou é preferível mantê-lo naquela vida miserável, dentro e fora de hospitais, mas, enfim, vivo?" (p. 81)


A que custo? No início, às prescrições invariáveis:
"Pode-se compreender como o desmoronamento de uma construção afetiva dolorosamente colocada de pé, dia após dia, como único refúgio às frustrações de uma vida conjugal desafortunada possa causar medo. E mais: renunciar por que motivo? Para sair por quatro horas com um cônjuje com quem já não se suporta mais nem mesmo a presença, sem saber o que falar com ele, expostos, sem poder fugir, a seus sarcasmos, seus silêncios, seus amuos? Tendo-se em vista o quê? A cura do outro filho? E quem garante essa cura, afinal de contas? O terapeuta? Mas a gente pode confiar nesse tal terapeuta?" (p .79).

O motivo porque guardar um segredo é inaceitável pode revelar o jogo familiar subsequente. Com a prescrição, é possível iniciar a interromper um jogo antes mesmo que ele se apresente por completo na sessão terapêutica.

Imbroglio: "processo interativo complexo que parece estruturar-se e evoluir em torno de uma tática comportamental especítica posta em rpática por um dos pais, caracterizada por ostentar como privilegiada uma relação diádica intergeracional (pai-filho) que, na realidade, não existe. O privilégio não é afetivamente autêntico, pois trata-se do instrumento de uma estratégia voltada contra alguém, em geral o outro genitor" (p. 92, grifos do autor).

O privilégio do filho por parte do(s) pai(s) em relação ao qual a traição desencadeia reações sintomáticas de amante traído. De fato, o privilégio somente existe enquanto ferramenta contra alguém. Uma recompensa é alusiva ao filho privilegiado, mas sabemos que esta não haverá, porque o amor especial do pai só existe enquanto raiva da mãe (ou vice-versa). Tratam-se de "crenças" aprendidas a partir do convívio, são questões tácitas e não regras explicitadas.

"Convicção da ilicitude e consciência da conivência, somadas à desconfiança quanto à lealdade do ex-aliado, condenariam também ao silêncio, por si só, quem se sentisse traído, levando-o a fazer uma reivindicação encoberta" (p. 95, grifos meus) - formação do sintoma.

O Imbroglio na Esquizofrenia

Jogos sujos
"Esbarramos freqüentemente em jogos ou manobras habilmente dissimulados que, no jargão de nossa equipe, habituamo-nos a chamar de jogos sujos. (...) Esses meios nos pareciam totalmente sujos porque o seu objetivo, tanto quanto conseguíamos entender, era mascarado e negado, para poder ser atingido mais facilmente. (...) A nossa hipótese era a de que o comportamento psicótico do paciente propriamente dito esteve em conexão direta com o jogo sujo. Repetidamente, estivemos perto de poder confirmar esta hipótese. Por exemplo, a explosão do comportamento psicótico havia ocorrido quando o paciente em questão se sentira traído ou, pelo menos, enrolado exatamente por aquele, dentre os dois pais, como o qual parecia sentir mais afinidade" (p. 103, grifos do autor).



O imbroglio acontece quando um dos pais entrega um 7 de copas ao filho e diz, sem palavras: "pede truco". Este sabe que o outro pai tem um 4 de paus. Mas sobre isso ele não diz nada. O outro pai também nunca diz se cai, corre ou dobra. A situação familiar fica insustentável, numa expectativa enlouquecedora. A coisa fica ainda pior se houver um outro filho que parece dizer: "esse negócio de truco não existe: é coisa da sua cabeça. Além disso, eu tenho mais o que fazer da vida".

"Os modos relacionais dessas famílias de jogadores, afeitas às contorções tático-manipulativas, parecem dominadas por uma advertência principal, que é mais ou menos o seguinte: quando se trata de afeto, o oportuno é nunca mostrar as coisas como elas são; é melhor mostrar exatamente o contrário" (p. 108).

"Do ponto de vista da adaptação é, portanto, importante que esse discurso seja desenvolvido mediante técnicas relativamente inconscientes e só parcialmente sujeitas a um controle voluntário.
Mas isso escancara a porta, para nós, a um problema de complexidade inimaginável. Como pode ser bem-sucedida e aonde pode levar a falsificação voluntária de uma relação em um jogo interativo cujas manobras táticas consistem numa mudança rápida de comportamentos amplamente subtraídos ao nível verbal?" (p. 110).

Aonde leva o jogo sujo premeditado e aparentemente deliberado? A que preço?

O pai relutante em fazer terapia de família:
-O senhor precisa comparecer à terapia de família.
-Mas o médico disse que esquizofrenia não tem cura e eu não piso aí nem fudendo.
-A nossa perspectiva profissional tem uma opinião diferente sobre a cura da esquizofrenia e, para tratá-lo, precisamos que o senhor venha à clínica uma vez por semana, para terapia de família.
-A minha mulher vai, e minha filha também.
-Sem o senhor, é impossível.
-E se eu estivesse morto?
-Se fosse assim, nós elaboraríamos outra estratégia. Infelizmente, não é o caso.
-O psiquiatra disse que não tem cura e vocês são uns charlatões.

O curioso é que, se o menino estivesse com câncer, e um médico dissesse que não tem tratamento, e outro dissesse que sim, em qual dos médicos eles acreditariam?

"Por que diante do drama de um filho estragado e insuportável, freqüentemente recusam-se a realizar atos tão pequenos, coisa tão pouca? Mas eles sentem a prescrição [ou, em alguns casos, a própria terapia] exatamente como um tornado que corre o risco de desorganizar, de maneira imprevisível, o complicado equilíbrio dos relacionamentos deles" (p. 292)

Viuvez dos pais - luto - melancolia
                         - guerra de sucessão - psicose, anorexia, neurose grave

A instigação

Provocação dissimulada <---> raiva dissimulada

Nível triádico (triangulação edípica): alguém instiga outra pessoa contra uma terceira.
"A distinção entre instigações e instigado não existe mais. O instigado também é instigador, o instigador também é instigado, enquanto a terceira pessoa, que identificamos no papel do primeiro instigador, é obrigado a pagar penalidades muito pesadas" (p. 124).

provocação <---> raiva
             ^ instigação ^

Todo enredo da instigação e do imbroglio passa-se no não dito, como estratégias tácitas em relação às quais todos têm um papel mais ou menos definido, mas também superposto, interpolado.

Coalizão
A filha foi instigada pelo pai em direção ao sintoma contra a mãe (delinquênica, depressão)
"O primeiro deles é o caráter perverso da coalizão pai-filha, quase oculto, mas ativo a ponto de gerar na mãe um estado de angústia, como se ela fosse o alvo de alfinetadas que não sabia de onde vinham"(p. 132)

"Um outro comportamento típico das provocações ditas 'triunfalistas' é elas apresentarem, com freqüência, fases de desencorajamento. Nesses momentos, o cônjuge invejoso, para não deixar que percebam sua inveja, sente-se obrigado a ajudar o provocador a 'recarregar suas baterias'!"

"Pelo fato de ocorrer exclusivamente nos binários no analógico, esse jogo pareceria, em grande parte, nada ter a ver com a intencionalidade ou com o controle 'racional' dos jogadores" (p. 133)

O filho se vê em um contrato que não assinou:
-Não poderíamos todos jogar pique-pega?
Se houvesse uma promessa percebida de sucessão à mãe, que fosse quebrada, o filho poderia descompensar, na criação de um delírio onde isso é possível.

O fato de termos salientado a importância do "fenômeno que chamamos instigação e insistir no fato de que termos configurado esse fenômeno, termos suspeitado corretamente da sua presença oculta, e possuirmos uma estratégia capaz de identificá-lo precocemente e eliminá-lo pode constituir um grande instrumento de prevenção" (p. 135).

Instigação nas psicoses
Entender que as reticências não nascem da vontade de criar obstáculos para os terapeutas de família, e sim do próprio espírito do jogo do casal: ou seja, da convicção, alimentada pelos pais, de que é necessário impedir que o adversário veja suas cartas.
-- procurar no jogo do casal as raízes da raiva do filho: mero portador de mensagens de terceiros, de coisas que os outros não têm coragem de falar e sobre cuja natureza o próprio filho não consegue explicar sozinho, e diante das quais ele se estupefata, enlouquece.

"Por que seu marido tinha tanta dificuldade assim para conversar diretamente ou para dizer-lhes coisas do tipo 'se você não chegar às sete lhe dou um murro na boca'? Sabe que uma pessoa que não consegue falar tem dentro dela um vulcão?... E é por isso que existem outras pessoas que captam esse vulcão e decidem que elas é que vão transmitir a mensagem!" (p. 141)

Quanto ao jogo do casal, "o que se percebe, cada vez com mais destaque, como fenômeno recorrente, é a história de 'nunca dar-se por vencido'" (p. 142)

Jogo do casal genitoral
A ameaça costuma ter o sexo como espantalho: as ameaças podem comportar a nomeação de um rival erótico interno, habitualmente um filho ou filha, que vem anteposto ao parceiro.

Enredamento do filho, o paciente identificado, no jogo do casal.

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Em lugar do pensar sistêmico (cibernético), surge a metáfora do jogo enquanto fenômeno humano. "A família é uma microorganização baseada na cooperação para fins comuns. A negociação das modalidades dessa cooperação, por causa do fisiológico egocentrismo de cada sujeito, comporta necessariamente o nascimento de conflitos" (p. 187)

O jogo familiar não é brincadeira. Não jogar é impossível.


Um jogo é o produto das intervenções alternadas de cada jogador que, motivado a ganhar, dentro de regras explícitas consensualmente aceitas, executa a toda hora a sua jogada, após a jogada adversária.

Assim também pensa o GIPSI - ficará fácil, assim, para psicanalistas também se utilizarem na metáfora do jogo (mito familiar?)

O jogo "transforma em caducas as tradicionais fronteiras entre as disciplinas sociais e leva, inevitavelmente, cada pesquisador a se aventurar em campos que, 'oficialmente', não são seus" (p. 189): família, instituição e sociedade.

A confusão a respeito das regras
Negociação ou comportamento aprendido por falta de negocioação?

Regra: o cavalo se move em L ---- repetições
           experts empatam

O casal empatado na família psicótica: estratégias se equilibram , não se trata de uma regra. Até o sintoma: cada elemento do sistema serve à manutenção dele.

Não há intencionalidade linear como em um jogo político.






1) Impasse do casal: o jogo tem causalidade ancestral. Não há crises francas, apenas um contínuo provocativo que não sai do lugar. O impasse faz parte do jogo e evita a ruptura do casal e da família.
"Em alguns casos, sim, tem-se a impressão de estar diante de dois inimigos, prisioneiros de um jogo que eles mesmos criaram sem saber, e já não são mais capazes nem de interromper nem de abandonar" (p. 201).

No jogo de truco, o pai tem um zap, a mãe tem um sete de copas, mas ninguém pede truco.

... Em jogo de marido e mulher, é o filho psicótico quem mete a colher.

2) Enredamento do filho no jogo do casal: o filho pode se incomodar com uma justiça, por perceber que já uma vítima - mas e se ele soubesse que a vítima também assinou o contrato? Promessas ambíguas e ambiguamente negadas: por mais que você seja legal, não troco seu pai por você, mas vou dizer que você é meu companheiro e dorme comigo na cama, só pra provocar seu pai. Não se trata da oferta, de fato, de uma relação incestuosa compensatória e sim um laço que visa exclusivamente o provocador ativo.

Duplo vínculo: "em certo momento foi falsificado o pressuposto básico sobre o qual ele construiu o seu próprio universo cognitivo e afetivo. Ele descobre o caráter instrumental da ligação que tinha com o seu suposto aliado" (p. 204)

A mãe sugere, muito angustiada, que somente o filho poderia pedir truco, é claro que ele ganharia, se tentasse, afinal, ele é "como se fosse" um sete de copas...

3) Comportamento inusitado do filho: semelhante a pródromos, o filho se comporta como o estranhamento gerado pelo envolvimento num jogo que "não faz sentido" e que não comunica senão ambiguidades, afetos invertidos e provocações implícitas.

O filho grita no ouvido do pai: truco!! E o pai responde: do que você tá falando, maluco?

4) Reviravolta do suposto aliado: o provocador ativo continua parecendo que ganhou, mas o passivo não se alia ao filho para destroná-lo; ao contrário, tudo se mantém do mesmo jeito, e o comportamento do filho não é suficiente para demover o impasse.

A mãe fica puta, porque não foi suficiente para o pai sair do jogo - e nem ela queria isso de verdade. O filho entende a trapaça e se sente traído.

5) Explosão da psicose: o filho envolvido é abandonado. "A confusão psicótica é comparável à obscura sensação de que as cartas na mesa foram manipuladas, que os fundamentos lógicos do mundo e de seus significados foram revirados pelo avesso, visto que as previsões que se considerava certas demonstraram estar erradas" (p. 209). Aliar-se ao pai "fraco" era a própria base da percepção do mundo: confusão que desorganiza (psicose).

Despossuído de qualquer carta, ele sabe que o jogo é sujo e não pode fazer nada além de criar, narcisicamente, uma realidade em que as coisas façam sentido.

6) Estratégias baseadas no sintoma: o sintoma do filho foi criado dentro do jogo e tem por objetivo mantê-lo. Ele tem um poder patológico e "cada membro da família organiza sua própria estratégia em torno do sintoma do filho, que tem o efeito pragmático de mantê-lo" (p. 210).

Não é a negligência paterna per se que influencia ou determina a psicose infantil, já que a criança é um sujeito ativo no jogo dos pais.
"O filho, prova do fracasso existencial da esposa-mãe, não está investido do real afeto do pai, que não consegue ver nele qualquer outra coisa que não o aborto educativo da mulher. O filho fica sendo o 'pobrezinho' de quem nada se pode exigir" (p. 227) e não é "de ninguém".


Instrumental terapêutico

Tentativas conscientes de explicitação e revelação do jogo familiar (instrumental e clínico).
-Estilo intensamente emocional das sessões: deixar as banalidades burocráticas e enfocar nas estratégias, regras, coalizões, instigações e provocações.

Busca das pistas (diferenças ou peculiaridades) em um método circular entre os membros da família.

Investigar, na especificidade da família, qual o tipo de impasse/instigação/imbroglio que desembocou no delírio/alucinação/paranoia?

O terapeuta é o especialista, pode emitir um julgamento tecnicamente fundado.
No entanto, deve evitar ser ele também enredado no jogo da família (evitar quedas-de-braço), afinal é a família quem mais sabe sobre si própria.

A família pode se tornar reticente (resistente?):-
-falta de motivação,
-encobrimento do jogo familiar,
-autodefesas individuais.

O terapeuta pode:
-estimular um relacionamento aberto e empático,
-ser o primeiro a "por as cartas na mesa",
-favorecer adaptações realistas ao nível do que é possível para a família naquele momento.

Competição?

Dados sobre o impasse do casal
Dados sobre o enredamento do filho
----revelação do jogo (momentos descontínuos de iluminação)

O objetivo da terapia é, de modo geral,
"Esclarecer, de maneira detalhada e específica, de que modo e até que ponto o paciente se envolveu nos problemas de relacionamento do casal genitoral. Como ele construiu uma leitura desses problemas. Como, em decorrência dessa leitura, tomou partido do pai que considerava perdedor, identificando-se com ele. Como, em seguida, entrou ativamente no jogo, ou para resgatar o perdedor ou para induzi-lo a associar-se com ele no desafio ao pai que (em sua opinião) estava prevaricando. E como, no final, esse envolvimento ativo revelou-se um fracasso total: inútil para o relacionamento do casal e catastrófico para ele" (p. 265).

Modelo sincrônico de lidar com o impasse: enfoque na transferência. O empasse não é infinito - é preciso desconstruir a suposta oposição simétrica dos pais.

O casal é promovido a co-terapeutas do filho e, ao fazê-lo, movem-no a curar a si próprio.

Conotação positiva: há algo positivo no comportamento de todos os membros da família.
Pacientização dos pais: trazer à tona seus conflitos e a necessidade que eles têm de ajuda.
Prescrição invariável: equilíbrio entre culpabilização (responsabilização) e valorização dos pais.
-os pais foram manipulados pelos seus próprios pais, e isso "deformou" suas personalidades.
-a instigação é transgeracional
-o paciente identificado tem um papel ativo estúpido entre eles e deve ser demovido dele.
Autoterapia do casal: a terapia sugere a construção de um metajogo (um outro jogo, só que menos sujo) com regras mais explícitas e desconstrução das ambiguidades e traições percebidas.

A confiança no terapeuta pode abrir a porta trancada do impasse do casal (desde que ele bata à porta educada, mas confiantemente).

"O terapeuta assume que qualquer comportamento é 'compreensível' sob o perfil interativo, na base de um conhecimento suficiente do contexto no qual o sintoma foi produzido. Diante de comportamentos que parecem incompreensíveis [, como os comportamentos psicóticos,] há um único movimento coerente com tal assunto: aprofundar a investigação sobre o contexto interativo" (p. 288).




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Natureza humana

Criança indesejada? O mundo é que não foi desejado - o self é a possibilidade de se tornar capaz de existir (continuidade do ser, awareness) "a despeito" do mundo.

Dependência: holding ---concern---> triangulação (ódio, culpa e concern)

Saúde física: hereditariedade (nature) e criação (nurture). Os dispositivos inatos só se tornam reais mediante a experiência.

Doenças:
"É importante também que saibamos de que tipo é a ansiedade que produz a ameaça; por exemplo, as defesas podem ser contra o medo de perder o pênis, ou de perder alguma função importante associada a um instinto. Podem ser também defesas contra a depressão, ou seja, contra uma desesperança pertencente a sentimentos de culpa, inconscientes eles mesmos, ou relativos a algum elemento inconsciente. Também é possível que as defesas sejam contra o medo de perder o contato com a realidade externa, ou contra o medo de uma desintegração caótica"

Efeitos da psique sobre o corpo e seu funcionamento
A saúde física dá significado à saúde psíquica e vice-versa - o corpo terá de ser sacrificado em muitos pontos, já que a liberdade dos instintos é restringida no processo de socialização. O compromisso entre as exigências do instinto e as da realidade social pode, contudo, ser construído com um mínimo de prejuízo.
Conflitos na consciência: manejo constante.
Conflitos no inconsciente: formação mais cega de sintomas.

A psicanálise da criança permite conhecer um processo ainda em meio a sua formação e derivar acesso a formações rudimentares presentes no adulto. Não temos uma idade: temos todas as nossas idades juntas ao mesmo tempo: as idades passadas na história, a idade presente e as expectativas das idades futuras.

A psique "torna-se algo que é capaz de criar e de perceber a realidade externa, torna-se um ser qualitativamente enriquecido, em condições de ir além daquilo que se pode explicar pelas influencias ambientais, e capaz não apenas de se adaptar, mas também de se recusar a se adaptar, e de se transformar numa criatura com algo que parece ser capaz de fazer escolhas" (p. 47)

Pré-genital             ingestão -------------------- ruthless (implacável)
   Alimentar            excreção ------------------- anal
                                    (experiências)                 uretral
                                                                                             "coisa" excretada "boa"
                                                                                                                         "má"

Fálica                   Menino, e o menino dentro das meninas


                                         genital masculino ----------- penetrar
                                                                   ----------- engravidar (ativo)
Genital
                                                                | ser penetrada
                                        genital feminino | ser engravidada (passivo)
                                                                | reter e livrar-se



Importância da pré-genitalidade
Diferença entre fantasia da experiência fálica e da experiência genital

Experiência fálica:
Ereção (coisa importantíssima, cuja perda seria terrível),
Exibição (desejo exibicionista);

depois, um objetivo declarado (penetrar e engravidar)

O funcionamento genital feminino verdadeiro tende a permanecer oculto ou até mesmo secreto. A menina que não sabe guardar segredo não pode ficar grávida, do mesmo jeito que o menino que não sabe lutar ou enfiar um trenzinho no túnel não pode deliberadamente engravidar uma mulher.

Tudo isso se dá na saúde. "Feliz e saudável é o menino que chega precisamente a este ponto de seu desenvolvimento físico e emocional [, o do complexo edípico,] quando a família está intacta, e que pode ser acompanhado em meio a esta constrangedora situação em primeira mão pelos próprios pais, que ele conhece muito bem, pais que toleram ideias, e cujo relacionamento é firme o bastante a ponto de não temerem a tensão sobre as lealdades, criada pelos ódios e amores de criança" (p. 68, grifo meu).
Assim, a criança "tornar-se-á capaz de tolerar os sentimentos humanos mais intensos sem construir defesas excessivas contra a ansiedade. As defesas, porém, sempre existirão e levarão à criação de sintomas. Os sintomas neuróticos são organizações de defesa contra a ansiedade, na verdade contra a ansiedade de castração, ansiedade que surge dos desejos de morte inerentes ao Complexo de Édipo. O anormal aponta para o normal".


"Para as crianças há ainda mais certeza quanto à frustração da vida instintiva do que na idade adulta, e é em parte por isso que observamos na infância uma valorização maior do brincar e da imaginação criativa" (p. 72)

Relações triangulares
"A criança odeia a terceira pessoa. Por ter sido um bebê, a criança já conhece o amor e a agressão, e também a ambivalência e o medo de que aquilo que é amado seja destruído. Agora, finalmente, na relação triangular, o ódio pode aparecer livremente, pois o que é odiado é uma pessoa que pode se defender, e que na verdade já é amada"
O ódio somente pode aparecer de forma saudável contra uma pessoa total, com capacidade de se defender e de retaliação, a qual já fora/é amada (outrora) e por isso também é capaz de perdoar.

"A criança deve empregar os tipos de experiência pré-genital e genital imatura que estão a seu alcance, e deve valer-se ao máximo do fato de que a passagem do tempo, algumas horas ou por vezes alguns minutos, traz alívio para praticamente tudo, por intolerável que pareça, desde que alguém familiar e compreensivo esteja presente, mantendo a calma quando o ódio, a raiva, a ira, o desespero ou a mágoa parecem ocupar o universo inteiro" (pp. 75-76).

Valor e perigo da cena primária
Sonho de ocupar o lugar de um dos pais na cena primária, construção da fantasia e risco de que ela se torne real. Os pais podem falhar na criação dos filhos por não serem capazes de distinguir claramente entre os sonhos da criança e os fatos (e assim também todas as pessoas da sociedade, particularmente ao ouvir de fantasias de destruição). A criança saudável não consegue tolerar compleramente os conflitos e ansiedades presentes no auge da experiência instintiva. A fantasia é, portanto, matéria prima que permite a civilização, pois "sem a fantasia, as expressões de apetite, sexualidade e ódio em sua forma bruta seriam a regra" (p. 78). Eu sou humano na medida de meus símbolos.

Autoconhecimento
"Os pacientes psicóticos (e as pessoas normais de tipo psicótico) pouco se interessam por ganhar maior autoconsciência, preferindo viver os sentimentos e experiências místicas, e suspeitando do autoconhecimento intelectual ou mesmo desprezando-o. Estes pacientes não esperam que a análise os torne mais conscientes, mas aos poucos eles podem vir a ter esperanças de que lhes seja possível sentir-se reais" (p. 79).

(...) a análise da psicose do tipo esquizoide (...) exige que o analista seja capaz de suportar a regressão real à dependência.

Holding = interpretação correta e oportuna no setting continente pelo analista suficientemente bom.


Desenvolvimento emocional característico da primeira infância
Oral (dentro e fora)
Reconhecimento bidimensional da membrana do self
EU e não-EU
Senso de responsabilidade pela experiência instintiva e pelos conteúdos do eu
Sentimento de independência do que está fora - há algo equivalente ao eu no fora: o seio como parte de uma pessoa (de um outro)

eu + objetos = relacionamento

Posição depressiva
Discriminação entre estado excitado e tranquilo - o "ataque" impiedoso cede lugar ao concern (a mãe é uma pessoa que cuida do EU ao oferecer uma parte de si mesma para ser comida). O bebê começa a se preocupar com os relacionamentos.

ruthlessness --- concern (possibilidade de fazer reparações)
repetição do machucar-e-curar

Separar o que é bom e o que é mau no interior do self.

Amor (oral), culpa (sádico) e reparação (anal)

A mãe, que sustenta e põe o tempo em marcha, oferece parte de si para ser comida. Por satisfazer o instinto e gerar prazer, o seu seio é bom e o bebê pode sentir que seu leite é bom: há algo de bom nele. Por, ao mesmo tempo, também se ausentar e deixar, em parte, o instinto não satisfeito, ela também proporciona desprazer na frustração. O bebê se enche de ódio dela e deseja destruí-la. A próxima mamada deixará introjetar também parte de um seio mau, e o bebê sentirá que há algo de mau nele (raiva). Aos poucos, por sustentar ser atacada e permanecer, ainda assim, o bebê sentirá que seus ataques podem destruir a mãe, que é boa e ao mesmo tempo má. Ele deverá fundir a agressão e o amor e tolerar a ambivalência. Se a mãe sobrevive, lhe será mais fácil tolerar a ambivalência e assumir responsabilidade pelos seus possível ataques. O bebê sentirá culpa e se preocupará com a mãe. Dotado de elementos bons ele mesmo, o bebê precisará de oportunidades de oferecer à mãe algo que a cure, que repare o mau causado. Esta será uma produção sua (as fezes), que será recebida pela mãe e o bebê poderá ficar tranquilo e suportar mais um dia.

1) Experiências instintivas
a. satisfatórias (boas)
b. insatisfatórias, complicadas por raiva devida à frustração (más)

2) Objetos incorporados (experiências instintivas)
a. no amor (bons)
b. no ódio (maus)

3) Objetos ou experiências interiorizadas magicamente
a. para controlar (mau potencial, persecutório)
b. para usar como enriquecimento ou controle (bom potencial)

O potencial dependerá da experiência para vir a se tornar fato, ou pode permear também as fantasias.
A separação é a capacidade de esperar o futuro e reconhecer a constância do objeto.

O que a posição depressiva permite descobrir:
O self é uma unidade; o objeto externo é uma coisa inteira. O tempo e o espaço existem, a psique está integrada ao corpo. O bebê pode se preocupar quanto ao objeto e quanto às consequências no self da experiência excitada.

"A partir do momento em que a integração é alcançada (mas não antes), a criança controla os impulsos instintivos por causa das ameaças ao seu movimento implacável, que provoca uma culpa intolerável - ou seja, o reconhecimento do elemento destrutivo na ideia excitada primitiva e bruta" (p. 99).
"A culpa pelos impulsos amorosos primitivos representa uma conquista do desenvolvimento", ou seja, não é inata.

"Os psicóticos são portadores de distúrbios derivados de um estágio ainda mais precoce e básico. Suas dificuldades e problemas são especialmente aflitivos. Por não serem inerentes, não fazem parte da vida, e sim da luta para alcançar a vida - o tratamento bem-sucedido de um psicótico permite que o paciente comece a viver e comece a experimentar as dificuldades inerentes à vida" (p. 100)

Quando a ansiedade é grande demais, processos mágicos acontecem, enquanto substitutos dos processos externos anteriores (alimentação e alucinação). O fenômeno interno mau que não pode ser controlado, contornado ou excluído é sentido pela criança como uma ameaça que vem de dentro, frequentemente se transforma em dor. Experiências más internas têm menor limiar de tolerância (como fugir?). Elementos persecutórios podem ser projetados, percebidos ou encontrados no mundo exterior. "Quando existe a expectativa de perseguição, uma perseguição real traz alívio, um alívio devido ao fato de que o indivíduo não precisa se sentir louco ou delirante" (p. 101).
A função anal depreende da possibilidade de expulsar objetos maus internos, intoleráveis, (potencialmente) ingeridos (introjetados) e persecutórios - não farão mal ao corpo, pois podem ser (e são) naturalmente jogados fora, todos os dias. Alguns conjuntos de perseguidores, contudo, são grandes demais e precisam ser projetados magicamente. "Os indivíduos lentamente aprendem como levar o mundo a persegui-los, de modo a poderem obter alívio da perseguição interna sem estarem expostos à loucura do delírio" (p. 105).
A capacidade de se deprimir, de apresentar uma depressão reativa, de sofrer um luto por uma perda não é inata, nem constitui uma doença (...) O importante é a capacidade do bebê ou do indivíduo de aceitar a responsabilidade pela intenção destrutiva no impulso amoroso total, incluindo a raiva pela frustração" (p. 106) e direcionar-se para a reparação.

Ansiedade hipocondríaca
Dúvida=doença

Desenvolvimento emocional primitivo
O primeiro contato influencia o padrão de relacionamento com a realidade externa.
A mãe torna possível a ilusão de que o seio foi criado pelo impulso originado na necessidade. A total dependência demanda uma adaptação perfeita: mas as falhas permitem o desilusionamento.

necessidade --- desejo
ilusão ----> desilusão

E neste momento o bebê está pronto para ser criativo, já que o potencial de excitação, em algum momento, de fato, resultará na produção de leite na mãe. Assim, o bebê cria uma realidade que, de fato, está lá para ser criada. Caso a "mamada teórica" seja forçada, a realidade é outorgada sobre o bebê e ele não tem espaço para criar.
Ao chupar o dedo ou agarrar um pano, o bebê declara seu controle mágico sobre o mundo e prolonga a onipotência originalmente satisfeita pela adaptação realizada pela mãe. A loucura seria a persistência da exigência de tolerância à criatividade onipotente do bebê na área transicional.
Quando a mãe é incapaz de satisfazer as vontades do bebê de forma sensível, o contato com a realidade fracassa. Ele não necessariamente morre, mas sua existência está fadada a um destino débil. São desenvolvidos tipos diferentes de relação objetal, que podem existir desconectados um do outro.
- De um lado estará a vida do bebê, na qual os relacionamentos têm por base a sua capacidade de criar, mais do que a memória dos contatos anteriores,
- e do outro lado estará um falso self, que se desenvolve sobre uma base de submissão e se relaciona com as exigências da realidade externa de forma passiva (p, 127-128).

No Rorschach, isso pode aparecer em termos de:
FQu                                         L alto
H baixo                                    D alto
A alto                                       p>a+1

"Nos graus menos extremos dessa doença não é tanto o estado primário de cisão que iremos encontrar e sim uma organização secundária cindida que indica uma regressão diante de dificuldades encontradas num estágio posterior do desenvolvimento emocional" (pp. 128-129). A desintegração, portanto, pode ser um processo de defesa ativa, porquanto se origina do ser, e não é reativa a falhas do ambiente.

"Há um tipo de artista que inicia seu trabalho com a representação bruta dos fenômenos secretos do self ou da vivacidade pessoal, que para ele é repleta de significados, mas que num primeiro momento não têm sentido para os outros. A tarefa dele é tornar inteligíveis suas representações e, para fazê-lo, ele deve até certo ponto trair a si próprio. Quanto à sua criação, na verdade, se ela for apreciada em excesso, o artista poderá retrair-se inteiramente, pela sensação de ter sido falso para si próprio. Esse artista é apreciado por pessoas retraídas, aliviadas por encontrar algum (não demasiado) compartilhamento daquilo que é basicamente pessoa e essencialmente secreto".
--devemos reconhecer a criatividade potencial não tanto pela originalidade de sua produção, mas pela sensação individual de realidade da experiência e do objeto.

Filosofia do real
"Alguns bebês têm a sorte de contar com uma mãe cuja adaptação ativa inicial à necessidade foi suficientemente boa. Isto os capacita a terem a ilusão de realmente encontrar aquilo que eles criaram (alucinaram). Eventualmente, depois que a capacidade para o relacionamento foi estabelecida, estes bebês podem dar o próximo passo rumo ao reconhecimento da solidão essencial do ser humano. Mais cedo ou mais tarde, um desses beb~es crescerá e dirá: "eu sei que não há nenhum contato direto entre a realidade externa e eu mesmo, há apenas uma ilusão de contato, um fenômeno intermediário que funciona muito bem para mim quando não estou muito cansado. A mim não importa nem um pouco se aí existe ou não um problema filosófico" (p. 135).
De fato, àqueles que se preocupam com esse tipo de questão seguramente foi precedida uma experiência de dúvida ou frustração no estabelecimento desse pensamento: "bebês que tiveram experiências um pouco menos afortunadas veem-se realmente aflitos pela ideia de que não há um contato direto com a realidade externa. Pesa sobre eles o tempo todo uma ameaça de perda da capacidade de se relacionar. Para eles o problema filosófico se torna e permanece sendo vital, uma questão de vida ou morte, de comer ou passar fome, de alcançar o amor ou perpetuar o isolamento" (P. 135)

A possibilidade de transformação da dor em arte ou filosofia:
“What is a poet? An unhappy man who hides deep anguish in his heart, but whose lips are so formed that when the sigh and cry pass through them, it sounds like lovely music.... And people flock around the poet and say: 'Sing again soon' - that is, 'May new sufferings torment your soul but your lips be fashioned as before, for the cry would only frighten us, but the music, that is blissful.” (Soren Kiekergaard)

Integração
Momentos de convergência aglutinadora do self como um todo promovem gradualmente a integração. "O bebê se desmancha em pedaços a não ser que alguém o mantenha inteiro" (p. 137).
-incorporar e manter lembranças.
-a integração é um estado precário (Humpty-Dumpty), é o que provoca o sentimento de sanidade e a perda, para sempre, do estado de não-integração. Gera novas ansiedades (estar vivo e ser um, ansiedade da morte e da fragmentação, da perda e da separação) e a defesa da desintegração é, em parte, responsiva a estas, como uma esperança de voltar à não-integração (a não estar vivo).


Os estados iniciais

O nascimento "normal" é aquele que é provocado pelo bebê. O estar-vivo já ocorre antes do nascimento e este pode ser produzido pelos impulsos do próprio bebê em direção ao movimento e à mudança que se originam diretamente do estar-vivo. Não há capacidade de espera ou de antecipação, pois o tempo ainda não foi posto em marcha. Qualquer demora ou antecipação é infinita.
O ambiente põe os dias em marcha, dá os primeiros sinais do que é o ritmo (respiração, frequência cardíaca da mãe). O impulso e a necessidade são construções criativas e vem de dentro. É preciso um período de recuperação após cada falha do ambiente, para reequilibrar a constituição ainda frágil de dentro e fora.

Desenvolvimento segundo as relações objetais
 - solidão
 - dependência absoluta (dupla dependência)
 - impulso instintivo (ruthless)
 - preocupação e culpa (dependência relativa, objeto parcial)
 - reparação
 - relação triangular
 - rumo à independência

Indivíduo e meio: como será feito o contato?
O movimento do próprio indivíduo descobre o ambiente
O ambiente "invade", por meio de uma intrusão (impingement), que é imprevisível e demanda reação. Neste modo de relacionamento, a excitação torna-se intrusiva (é um "intruso"). O mundo o invade - e a única possibilidade de interação é submissa.
O narcisismo primário, ou o estado anterior à aceitação de que existe um meio ambiente, é o único estado a partir do qual o ambiente pode ser criado. Um meio intrusivo não pode ser criado.

No princípio, há uma solidão essencial, inorgânica: solidão absoluta na dependência absoluta.
Desconhecimento do ambiente, a continuidade do ser depende da adaptação.
"O estado anterior ao da solidão é um estado de não-estar-vivo, sendo que o desejo de estar morto é em geral um disfarce para o desejo de ainda-não-estar-vivo. A experiência do primeiro despertar dá ao indivíduo a ideia de que existe um estado de não-estar-vivo cheio de paz, que poderia ser pacificamente alcançado através de uma regressão extrema. Muito do que geralmente é dito e sentido a respeito da morte, na verdade se refere a este estado anterior ao estar-vivo, no qual o estar sozinho é um fato e a dependência ainda se encontra muito longe de ser descoberta" (p. 154)

Caos
Intrusões
Desintegração: alternativa para a ordem, defesa contra ansiedades advindas da integração
Depressão: controle mágico do caos interno (tentativa de exteriorizar o caos interno)

Na cisão:
O verdadeiro self, dotado de esponaneidade, é incomunicável;
O falso self, baseado das intrusões do meio, é o que se relaciona com o meio externo.

Na dissociação: excessiva falta de comunicação entre os diversos elementos da personalidade.

Na repressão: perda de vários sentimentos, pensamentos, devido à dor intolerável que eles causam quando são trazidos à consciência

"Se o desenvolvimento transcorre favoravelmente, o indivíduo torna-se capaz de enganar, mentir, negociar, aceitar o conflito como um fato, e abandonar ideias extremas da perfeição e do seu oposto, que tornam a existência intolerável".
O ser humano é cruel, mas não está de todo estragado.

A função intelectual
Explica, admite e antecipa (memória) a desadaptação (criatividade).
Controle e racionalização: espécie de babá da criança.

Retraimento e dependência
Regressões no processo psicoterapêutico: o narcisismo permite ao sujeito o não reconhecimento da dependência, a onipotência e a verdade, já que não há intrusão. No narcisismo primário, o bebê não é forçado a reconhecer o ambiente e reagir a ele.

---No início, o ambiente se adapta às necessidades do bebê, permite que ele (crie a ilusão) ilusione a criação do mundo a partir de suas necessidades (excitações de origem interna que se transformarão em desejo). Na medida em que o bebê retém as ifnromações sobre a adaptação do meio, ele reconhece sua dependência e desenvolve a capacidade de:
-estar só na presença do outro;
-cuidar de si;
-se preocupar com o outro.
O ambiente começa a se desadaptar e desilusiona o bebê, que tolera a imperfeição do ambiente e a sua própria, na tolerância da ambivalência.

A espera infinita do nascimento "fornece uma base muito poderosa para coisas tais como a questão da forma na música, onde, sem a rigidez da moldura, a ideia do fim é mantida diante do ouvinte desde o início. A música sem forma aborrece. E a inexistência de formas é infinitamente enfadonha para aqueles que se sentem particularmente aflitos por este tipo de ansiedade, por conta de adiamentos impossíveis de compreender ocorridos em sua primeira infância" (p. 167)

No Rorschach, a atribuição repetitiva e enfática das formas (Lambda alto) pode aparecer como organização defensiva contra o infinito.

O ambiente
Pode ser mais fácil enfrentar a guerra e a morte do que algo como o imbroglio.
Mãe: ilusão de contato com o mundo externo (construção da área transicional).
Preocupação materna primária: capacidade de se identificar com o bebê (a partir do bebê que a mãe foi).

Handling (ancora a psique no corpo, cuidado técnico do corpo)
Holding (sustenta e permite o envolvimento, cuidado emocional, expressão de amor)





Narcisismo e apassivação

Varella, M. R. D. (2008). Narcisismo e apassivação. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília.

O aspecto totalizante da excitação das zonas erógenas, que antecede a integração do corpo unificado, é também fonte de angústia, já que tem como característica uma unidade, uma fragmentação, implicando uma desintegração da imagem corporal.

Contudo, podemos compreender como o seio-boca, fonte de satisfação da necessidade, de excitação e causa de prazer, representa um fragmento que tem o caráter de ser, ao mesmo tempo, audível, visível, tátil, olfativo e nutritivo, numa totalidade de prazeres. A boca torna-se "o representante pictográfico e metonímico das atividades do conjunto de zonas" e o seio - "será representado como fonte global e única dos prazeres sensoriais". Dessa forma, seio-boca, "zona-objeto complementar", constitui-se fantasia originária, numa relação complementar e de intepenetração recíproca. Essa complementaridade faz com que o desprazer, resultante da ausência ou inadequação por excesso ou falta, seja vivido como ausência ou inadequação da própria zona. Daí decorre que, nesse período precoce, as falhas ambientais ainda não possam ser experienciadas desta forma pelo bebê, e os "defeitos" do ambiente são vivenciados como falhas do próprio bebê. A rejeição do objeto implica a rejeição da zona, sendo que o dilaceramento e a rejeição entre a zona e o objeto são a representação de ódio presente em Thanatos, que quer destruir aquilo que traz excesso ou falta, e Eros, que quer totalizar, unificar, apaziguar (p. 79-80). Winnicott critica a necessidade de uma pulsão específica como Thanatos, e atribui a outros fatores a raiz da agressão.

-Aulagnier (1975). A violência da interpretação. Do pictograma ao enunciado. Rio de Janeiro: Imago, 1979, p. 53.

--fusão dos objetos parciais: imagem do objeto-zona complementar
-Ver sobre pulsão de vida e de morte em O inconsciente.

Husserl: O Eu é a transformação da afetação, em sentimentos das imagens, em representação de ideias, que coincide com a constituição mesma do inconsciente, num processo que nunca cessa de ser elaborado (p. 82).

A percepção é um fator importante no processo de formação do Eu, mas que também está submetido aos investimentos e às transformações libidinais, que estão na origem do Eu e fundam a realidade psíquica.

Narcisismo primário e denegativa
(ou denegação, A negativa, 1925).

O processo primário difere do secundário pelo reconhecimento que se estabelece da separação de dois espaços corporais. Tal reconhecimento, advindo da experiência ausência-presença, é representado pela relação que une o separado, na identificação com o desejo do outro, no qual se reconhece e se nega a separação.

O processo de alucinação

Freud, 1911b: Formulações sobre os dois princípios do acontecer psíquico.
"foi preciso que não ocorresse a satisfação esperada, que houvesse uma frustração, para que essa tentativa de satisfação alucinatória fosse abandonada. Em vez de alucinar, o aparelho psíquico teve então de se decidir por conceber as circunstâncias reais presentes no mundo externo e passar a almejar [desejar] uma modificação deste" (p. 66).

Uma nova função passa a ser utilizada: não mais se espera que as impressões sensoriais apareçam, vai-se ao encontro delas. A realidade passa a ser modificada pelo agir: "a realidade do pensar torna-se equivalente à realidade exterior e o mero desejar já equivale ou equipara-se até mesmo à ocorrência do evento desejado".

Narcisismo primário e estágio do espelho

No processo de incorporação, "a identificação direta e imediata da representação especular captura o filho que existe como a mãe que o vê".

Ética e responsabilidade
+
Pensamento consequente

culpa e moral


Análise do delírio
"uma crença profunda que o sujeito apresenta e que não provém de seus elementos falsos e nem é motivada por uma incapacidade de julgamento. Acontece que existe uma parcela de verdade oculta em todo delírio, um elemento digno de fé, que é a origem da convicção do paciente, a qual, portanto, até certo ponto, é justificada" (Freud, 1907, Gradiva de Jansen, p. 83)

--"Em certo sentido, portanto, o paranoico tem razão, pois ele reconhece algo que escapa à pessoa normal: vê com clareza maior do que alguém de capacidade intelectual normal, mas o que ele reconhece faz com que seu reconhecimento não tenha valor" (Freud, 1901. Psicopatologia da vida cotidiana, p. 221).

Conclui, portanto, que o sentimento de convicção do paranoico é justificado, pois há algo verdadeiro nele. Mas este saber perde o valor, pois não é assumido como pertencente ao próprio sujeito, e sim como se fosse de um outro.

Freud enfoca que as pessoas que não se libertam completamente do estágio do narcisismo, que se encontram aí fixadas, acham-se expostas ao perigo de que uma força intensa dessa libido, ativada por algum motivo e não encontrando escoadores, venha a produzir uma sexualização das relações sociais, desfazendo sublimações que haviam sido alcançadas no curso do desenvolvimento.


---Sartre, J.-P. (2012). Com a morte na alma. Rio de Janeiro: Nova fronteira. Trabalho originalmente publicado em 1949.

"Não são verdadeiros, pensou, são os sósias. Onde andam os verdadeiros? Em qualquer lugar, mas não aqui. Ninguém está aqui de verdade; eu não mais que os outros" (p. 38).

Winnicott - "Pode-se dizer que uma proteção do ego suficientemente boa pela mãe (em relação a ansiedades inimagináveis) possibilita ao novo ser humano construir uma personalidade no padrão da continuidade existencial. Todas as falhas que poderiam engendrar a ansiedade inimaginável acarretam uma reação da criança, e esta reação corta a continuidade existencial. Se há recorrência da reação desse tipo de modo persistente, se instaura um padrão de fragmentação do ser. A criança cujo padrão é o de fragmentação do ser tem a tarefa do desenvolvimento que fica, desde o início, sobrecarregada no sentido da psicopatologia. Assim, pode haver um fator muito precoce (datando dos primeiros dias ou horas de vida) na etiologia da inquietação, hipercinesia e falta de atenção (posteriormente designada como incapacidade de se concentrar)" (p. 59)

A integração do ego no desenvolvimento da criança (1962)
O caos da desintegração pode ser tão "ruim" como a instabilidade do meio, mas tem a vantagem de ser produzido pelo bebê e por isso de ser não ambiental. Está dentro do campo de onipotência do bebê.

Provisão para a criança na saúde e na crise (1962)
"O padrão consiste em nos identificarmos de algum modo com o indivíduo, de tal maneira que possamos prover aquilo de que ele necessita a qualquer momento" (p 67)

Séchehaye (1951). Symbolic Realization. New York: University Press.
--Aspecto central no tratamento da esquizofrenia, caracterizada pela incapacidade de estabelecer relações objetais



sábado, 15 de dezembro de 2012

O desenvolvimento da capacidade de envolvimento

Winnicott, D. W. (1963). O desenvolvimento da capacidade de envolvimento. Em Winnicott, D. W. (2005). Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes, pp. 111-126.

Envolvimento (concern, positivo) - culpa (negativo)
Um sentimento de culpa é angústia vinculada ao conceito de ambivalência, e implica um grau de integração do ego individual que permite a retenção da imago do objeto bom, ao lado da sua ideia de destruição.

Envolvimento e senso de responsabilidade: se refere ao fato do indivíduo se preocupar, se importar, sentir e aceitar responsabilidade. É a base da família, do brincar criativo e do trabalho construtivo.

Fusão: pulsões eróticas e agressivas em relação a um mesmo objeto, ao mesmo tempo.
Eróticas: busca de satisfação e de objeto;
Agressivas: complexo de raiva, empregando erotismo muscular, e ódio, envolvendo a retenção de uma imago do objeto bom para comparação.
Impulso agressivo-destrutivo: tipo primitivo de relação com o objeto em que o amor envolve destruição. Combinar a experiência erótica com a agressiva em relação a um único objeto (ambivalência).

Fantasia: elaboração da função corporal.
Bebê: a integração passa por estágio primitivo Humpty Dumpty.


O muro é o colo da mãe (ausente).

A integração do ego no desenvolvimento da criança

Winnicott, 1962.

Nos estágios mais precoces no desenvolvimento da criança, os fenômenos vivenciados são as manifestações do que se poderia denominar id, mas não há id sem ego.
O ego é o próprio início -- processo de integração e diferenciação eu/não eu
O bebê é um ser imaturo que está continuamente a pique de sofrer uma ansiedade inimaginável - depende da capacidade da mãe de se por no lugar do bebê, que não existe sem ela.

Elemento esquizoide oculto em uma personalidade não-psicótica nos demais aspectos: ansiedades inimagináveis (falhas precoces ainda não percebidas como ambientais):
-Desintegração (falha na função da pele-envelope)
-Cair pra sempre (gravidade)
-Não ter conexão alguma com o corpo (localização da psique no corpo)
-Carecer de orientação (tempo e espaço)

Desenvolvimento do ego:
Integração (no tempo e no espaço): cuidado, holding
Personalização (ego corporal): handling, erotização
Relações objetais: apresentação de objetos

Integração vinda de onde? Elaboração imaginária do funcionamento do corpo desse novo ser humano que começou a existir e ter experiências que serão denominadas de pessoais.

Integração com o que? Constituição de personalidade no padrão da continuidade existencial. A criança cujo padrão é o de fragmentação na continuidade do ser tem uma tarefa do desenvolvimento que fica, desde o início (talvez das primeiras horas), sobrecarregada no sentido da psicopatologia.

A integração está rrelacionada à função ambiental de segurança, se baseia na unidade (I am alone).
I- pele limite (psicossomática, diferenciação não-eu);
am - existo (interação com o não-eu);
alone - há outras pessoas que percebem minha existência, na "rotação do espelho".
A desintegração é uma defesa sofisticada contra a não-integração na ausência de auxílio ao ego por parte da mãe, resultante da falta de segurança no estágio de dependência absoluta. O caos decorrente da desintegração parece ruim, mas ao menos é legítimo, pois se origina no bebê, ao contrário das ansiedades inimagináveis, que se originam da falha do ambiente.

O bebê desenvolve a expectativa vaga que se origina em uma necessidade não-formulada. A mãe, em se adaptando, apresenta um objeto ou uma manipulação que satisfaz as necessidades do bebê, que começa a se sentir confiante em ser capaz de criar objetos e criar o mundo real. Ela proporciona ao bebê um breve período em que a onipotência é um fato da experiência.