sábado, 29 de outubro de 2011

Luto

Marlon faleceu esta semana. Não é desculpa, mas a desorganização foi grande. To voltando agora a conseguir me sentar à escrivaninha e dedilhar o computador para algo mais útil.
Tenho faltado muitas aulas por dificuldades inventadas mil. Mas there´s no point crying over
spilt blood.
Ainda não to legal, mas vamo que vamo.
Estou escrevendo o capítulo da disciplina da Sheila Murta: "Psicodiagnóstico de Rorschach na pesquisa em Psicologia Clínica" ou "A arte de transformar ouro em pó".

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Primeiro rascunho do projeto

Depois de três dias de escrita intensa, as primeiras 21 páginas de rascunho da minha dissertação.
https://www.dropbox.com/home#/Blog:::



tô morta.


Viva pandora, que talvez me apareça hoje para me assombrar.

sábado, 8 de outubro de 2011

Foucault - Doença mental e psicologia (1975)


Foulcault argumenta, em seu Doença mental e psicologia (1975) que é possível que as confusões da psiquiatria quanto à loucura advenham do fato de que "se dá o mesmo sentido às noções de doença, de sintomas, de etiologia nas patologias mental e orgânica" (p. 5).
"Se se define a doença mental com os mesmos métodos conceituais que a doença orgânica, se se isolam e se se reúnem os sintomas psicológicos como os sintomas fisiológicos, é porque antes de tudo se considera a doença, mental ou orgânica, como uma essência natural manifestada por sintomas específicos. Entre estas duas formas de patologia, não há então unidade real , mas semente, e por intermediário destes dois postulados, um paralelismo abstrato" (p. 9)
"a doença seria alteração intrínseca da personalidade, desorganização interna de suas estruturas, desvio progressivo de seu desenvolvimento: só teria real idade e sentido no interior de uma personalidade estruturada. Neste sentido tentou-se definir as doenças mentais, segundo a amplitude das perturbações da personalidade, e dai chegou-se a distribuir as perturbações psíquicas em duas grandes categorias: as neuroses e as psicoses" (p. 9)
"A personal idade torna-se, assim, o elemento no qual se desenvolve a doença, e o critério que permite julgá-la; é ao mesmo tempo a realidade e a medida da doença" (p. 10).
"Quer suas designações primeiras sejam psicológi cas ou orgânicas, a doença concerniria de qualquer modo a si tuação global do indivíduo no mundo" (p. 11)

Impossibilidades de comparação entre a doença física e a doença mental:
Dialética das elações do indivíduo e seu meio
Instrumentais de análise das causalidades
Distinção entre normal e patológico

A doença mental não é somente a perda~
Cada doença, segundo sua gravidade, abole certas condutas que a sociedade em sua evolução tinha tor nado possíveis, e as substitui por formas arcaicas de comportamento" (p. 22)

O campo psi toma, pelo sintoma, toda a complexidade de uma existência histórica e social. Mesmo a partir da visão evolucionista da psicanálise clássica, não seriam somente os "doentes mentais" a fazerem uso de defesas mais primitivas quando a situação social promovesse um mal estar assaz mortífero. Sujeitos a isto são todos os seres humanos, por serem históricos tanto filogenética quanto ontogeneticamente. Todo o arcaboouço cultural e humano lhe é possível, a despeito (ou mediante) do que assevera a normatividade da civilização.
Isto posto, cumpre à psicopatologia crítica um olhar para além do sintoma.

PARA A PALESTRA:
"perdendo esta virtualidade ambígua do diálogo, e não mais apreendendo a palavra senão pela face esquemática que ela apresenta ao sujeito falante, o doente perde o domínio de seu universo simbólico; e o conjunto das palavras, dos signos, dos ritos, em resumo de tudo o que há de alusivo e referencial no mundo humano, cessa de integrar -se num sistema de equivalências significativas; as palavras e os gestos não constituem mais o domínio comum no qual se encontram as intenções de si próprio e dos outros, mas significações existindo por si mesmas, de uma existência maciça e inquietante; o sorriso não é mais a resposta banal a uma saudação cotidiana; é um acontecimento enigmático que nenhuma das equivalências simbólicas da pol idez pode reduzir; no horizonte do doente ele se destaca, então, como o símbolo de não se sabe que mistério, como a expressão de uma ironia que se cala e ameaça. O universo da perseguição brota de todos os lados" (P. 22)
MEDO DA LOUCURA: que significado oculto você encerra? Vazio preenchido por identificações projetivas e formulações paranoides.

"o critério social da verdade ("acreditar no que os outros crêem") não tem mais valor para o doente [FQu, P baixo, XA baixo, Dd alto] (...) [ele] "é remetido a formas arcaicas de crença, quando o homem primitivo não encontrava em sua sol idariedade com o outro ocritério da verdade, quando projetava seus desejos e temores em fantasmagorias que teciam com o real as meadas indissociáveis do sonho, da aparição, e do mito" (p. 23)
"Os processos infantis de metamorfose do real tem, então, uma utilidade: constituem uma fuga, uma maneira vantajosa de agir sobre o real, um modo mítico de transformação de si mesmo e dos outros. A regressão não é uma queda natural no passado; é uma fuga intencional fora do presente. É mais um recurso do que um retorno" (p. 29). Assim, pode ser feita uma compreensão menos apassivada dos sintomas psíquicos.
"Nunca a psicologia poderá dizer a verdade sobre a loucura, já que é esta que detém a verdade da psicologia (...). [A arte] promete ao homem que um dia, talvez, ele poderá encontrar-se livre de toda psicologia para o grande afrontamento trágico com a loucura" (p. 60)

No Rorschach, talvez a abordagem por agrupamentos e a compreensão estatística/psicanalítica dos dados permitam uma reflexão também da história do indivíduo e da maneira adaptativa que ele faz uso de suas defesas regredidas-patológicas (recursos outros para além do lado esq. da EB)

Foucault, M. (1975). Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Psiquiatria e psicose - Francisco Martins (2003)

Martins (2003) elabora uma investigação teórico clínica das síndromes psicopatológicas clássicas, a partir de uma crítica à psiquiatria tradicional e a visão médica reducionista. Em suas considerações sobre o que denominou de "as síndromes delirantes, alucinatórias e de desagregação do pensamento", perfaz breve histórico da forma como a psiquiatria, ou o saber médico, conceituou a psicose. O autor compara o reconhecimento do caráter simbólico atribuído às síndromes neuróticas com o trato diferenciado dado às psicoses. Diferentemente da histeria, da neurose obsessiva, dentre outras síndromes neuróticas, as psicoses foram tratadas, no âmbito médico, como síndromes demenciais. O termo demência precoce se referia às manifestações sintomatolígicas do que ficou conhecido como perda de contato com a realidade. A sintomatologia clássica das psicoses concerne à esfera do pensar, da linguagem, organizada a partir de dois fenômenos principais: a alucinação e o delírio, acompanhados de outros sintomas também ligados ao pensar e à linguagem.
Distinguem-se grandes síndromes em que a categorização se multiplica em inúmeros subtipos ao longo da história da psiquiatria. A grande diversidade em que se apresentam os sintomas e outras manifestações de distanciamento da realidade, estranhamento característico da psicose, reflete a complexidade envolvida no sofrimento psíquico. A tentativa feita pela psiquiatria é de descrever e compreender o fenômeno ps´quico a partir do mesmo olhar da medicina tradicional, anatomo-fisiológica. A esperança final é de que, quando os avanços tecnológicos o permitirem, a descrição sintomatológica das síndromes mentais encontre sua etiologia neuroanatômica determinante. Assim, procedimentos fisiológicos foram tomados para classificar e cuidar da loucura enquanto se espera as explicações neuroanatômicas redentoras.
A estranheza da linguagem psicótica seria, então expressão do acometimento mental (leia-se neuronal, cerebral) não determinado que acomete o paciente. A psiquiatria poderia teorizar a respeito de qual é a deterioração mental da psicose, por analogia aos processos demenciais. A cronificação e degeneração psíquica são marcas da consideração que a psiquiatria tem pela psicose e o processo classificatório "não fez senão aumentar o fosso existente entre os normais - os que utilizam as metáforas mais habituais, como diria Nietzsche - e os loucos que desviam através da excentricidade da norma" (p. 244). Este raciocínio tautológico torna siamesas a etiologia e a semiologia. O autor segue:
"Cada alteração ganha um novo nome, ou mais frequentemente um novo neologismo científico, que se torna signo da realidade aparente, julgada na ordem do saber médico da época, como fazendo parte de um quadro nosográfico específico. As palavras são, então, esvaziadas de sei poder imaginário, simbólico e pragmático" (p. 244).
A assepsia do discurso da loucura, realizada pela prática coercitiva da psiquiatria, demove o ser humano não-normativo de sua humanidade. A palavra louca, no entanto, é portadora de sentido e comunica, associa interlocutores. A medicina, no seu afã de sair do "infinito de signos interlocutivos e banais", na busca por signos patognomônicos nas doenças mentais", perde de vista que a saúde mental não se trata de órgãos silenciosos, nem promove a escuta do significado desenvolvido na enunciação do sintoma-palavra.

Martins, F. (2003). Psicopathologia II: Semiologia Clínica. Brasília: UnB/ABRAFIPP.

sábado, 1 de outubro de 2011

Considerações sobre o narcisismo e a psicose

O psicótico apresenta um padrão de escolha (relação) objetal narcísica. O outro é sustentáculo para o eu, pode ser seu ideal e portar as características com as quais o ego se identificará na medida em que puder investir libido no objeto identificatório idealizado. A perda do objeto na relação objetal narcísica significa a perda do sustentáculo do ego e pode trazer mais do que angústia de abandono ou de perda do objeto. Nestes casos, a perda do objeto significa angústia de aniquilamento do ego, o eu perde a si mesmo quando perde o objeto de identificação narcísica.

Metamorfose de narciso, Salvador Dali - ampliar 

Lembro do paciente que acolhi ontem, falando o tanto que a perda da mãe dele significava para ele a perda de si próprio. Esta perda é elaborada de diferentes formas, mas principalmente pela sensação de perda de controle, de ter feito um mal irreparável, de estar sob o controle perverso do outro, de ser diversas pessoas nos momentos em que ele não tem certeza de quem ele é. Está no meio de um ritual mágico, permeado por aspectos crueis e retaliadores, responsivos à ambivalência presente no investimento amoroso feito no objeto de identificação narcísica. O uso de drogas e a sensação de onipotência primitiva que perpassa os processos sublimatórios somente pode ocorrer mediante a sustentação do eu que  a relação objetal narcísica proporciona. Perder o sustentáculo oferecido pelo objeto narcísico impossibilita a expressão mais livre, já que o investimento libidinal não tem mais o objeto e o eu sobre o risco constante de aniquilamento. Toda a energia psíquica parece concentrada na busca por este objeto perdido, que é a busca do eu.

A estrutura da personalidade é contexto para o desenvolvimento psicopatológico. O uso de defesas psicóticas (narcísicas, na concepção freudiana) depende do tipo de relação objetal estabelecida e do tipo de angústia vivenciada no momento da perda do objeto. Esta escolha objetal pode ser predominante ou ocorrer somente no processo identificatório primitivo. Uma pessoa com sintomas psicóticos pode ser capaz de estabelecer relações objetais de apoio, de formular angústia de perda de objeto e de ter sintomas (defesas) neuróticos (de transferência). Uma psicose "instalada" é "a adaptação do ego à vivência psicótica em si (...), a expressão do funcionamento mental que passou por uma experiência de desorganização [do eu]" (Tenenbaum, 1999, p. 26).

A tela de Dali parece ilustrar as psiconeuroses narcísicas. Na melancolia, à esquerda, o investimento libidinal no outro é impossibilitado pela perda deste, e há reinvestimento da libido objetal no ego, pois "a sobra do objeto cai sobre o eu".
Na psicose, à direita, o outro é sustentáculo do eu, a elaboração do ego toma a metáfora na literalidade. A perda do outro, da relação objetal, cria uma angústia de aniquilamento, que impulsiona a geração de mecanismos de defesa primitivos, alucinações e delírios. Na realidade do psicótico, o objeto narcísico ainda existe com toda sua força e onipotência, retomado de forma distorcida possibilitada pelo Processo Primário de Pensar, a qual permite a força e onipotência do eu. Afinal, delirando eu sou "O GOSTOSO do universo" (Martins, 2004). "A potência do ato ilocucionário alcança sua performance máxima" (Martins, 2009, p. 86).


Referências


MARTINS, F. (2004). Os Psicopathos I - A Alucinação. Brasília: Laboratório de Psicopatologia e
Psicanálise, Universidade de Brasilia.
___________. (2009). Ensaio sobre os sintomas simbólicos – Da cabrita desvalida ao Senhor do Mundo. Brasília: Edunb-FINATEC.
TENENBAUM, D. (1999). Investigando psicanaliticamente as psicoses. Rio de Janeiro: Sette Letras.