domingo, 28 de agosto de 2011

Influências de grupo e a criança desajustada: o aspecto escolar


WINNICOTT, D. W. (1955). Influências de grupo e a criança desajustada: o aspecto escolar. In Winnicott, 1971. Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes, pp. 215-226.
Esse eu já tinha lido, inseri novas considerações a partir da leitura anterior
O zeitgeist era que eu tava na corrida de Winnicott pra poder me livrar da influência do Zé Bigode. Mas freudiana até o talo.

Psicologia de grupos advém da psicologia individual~~
O desenvolvimento do nascimento até a morte - não se completa ou finaliza


Extensões graduais da palavra grupo dada às crianças:
família
pré-escola
lobinhos/fadinhas
escoteiros/guias
ideologias
religião
filosofia
cultura
civilização


Importância do ambiente no processo de amadurecimento em direção à integração
EU SOU
integração é criação de mundo interno, possibilitada pelo holding.
EU SOU significa perceber sua pele
e sentir-se nu.

A área intermediária, em que permanece parte da ilusão de criação onipotente, permite que um grupo seja uma realização EU SOU. O exterior(izado) não deve se tornar persecutório.

Para a criança desajustada dentro do grupo, aspectos de sua criatividade e seu sentimento de continuidade do ser foram atrapalhados por uma falta de adaptação do ambiente às suas necessidades precoces. A depender do grau de desajuste da criança, pode-se identificar a natureza da falha ambiental.

o Boby tá ca camisa sepi sujinha de sangue tiriquiti.



Classificação das crianças quanto a seu desajuste:
  1. Crianças que não se integraram em unidades e não podem contribuir para um grupo
  1. Crianças que desenvolveram um falso self (eu), o qual tem a função de estabelecer e manter contato com o ambiente e, ao mesmo tempo, proteger e ocultar o eu verdadeiro. Nesses casos, há uma integração ilusória que se desfaz assim que é admitida como ponto pacífico e convocada para uma contribuição
  1. Crianças retraídas. Neste caso, a integração foi realizada e a defesa se estabelece segundo linhas de uma redistribuição de forças benignas e malignas. Essas crianças vivem em seus próprios mundos interiores, os quais são artificialmente benignos embora alarmantes, por causa do funcionamento mágico. O mundo exterior dessas crianças é maligno ou persecutório
  1. Crianças que mantem uma integração pessoal através da ênfase exagerada na integração, e uma defesa contra a ameaça de desintegração que assume a forma de uma personalidade forte
  1. Crianças que conheceram um mundo intermediário com objetos que adquirem importância através da representação, ao mesmo tempo, de objetos internos e externos de valor. Essas crianças, não obstante, sofreram uma interrupção tal na continuidade de sua administração que o uso de objetos intermediários foi suspenso. Essas  são as crianças portadoras do comum "complexo de privação", cujo comportamento desenvolve qualidades antissociais sempre que começam de novo a ter esperanças. Roubam e anseiam por afeição e pretendem que acreditemos em suas mentiras. Na melhor das hipóteses, elas regridem de um modo geral, ou de um modo localizado, como no caso da enurese noturna, que representa uma regressão momentânea em relação a um sonho. Na pior das hipóteses, forçam a sociedade a tolerar seus sintomas de esperança, embora sejam incapazes de se beneficiar imediatamente de seus sintomas. Roubando, não encontram o que quere, mas podem finalmente (porque alguém tolera seus furtos) atingir um certo grau de nova crença em que o mundo lhes deve algo. Neste grupo há toda a gama de comportamentos antissociais.
  2. Crianças que tiveram um começo toleravelmente bom mas sofrem dos efeitos de figuras parentais com quem é inadequado para elas identificarem-se. Existem inúmeros subgrupos, como por exemplo
    1. Mae caótica
    1. Mae deprimida
    1. Pai ausente
    1. Mae ansiosa
    2. Pai de aparência austera, sem merecer o direito a ser austero
    3. Pais briguentos, a que se acrescentam condições precárias de moradia, o fato de a criança dormir no quarto dos pais etc.
  1. Crianças com tendências maníaco-depressivas, com ou sem um elemento hereditário ou genético
  1. Crianças que são normais, exceto em fases depressivas
  2. Crianças com expectativa de perseguição e tendência para se intimidarem ou para se tornarem fanfarronas e intimidarem outras. Nos meninos, isso pode constituir a base da prática homossexual
  3. Crianças que são hipomaníacas, com a depressão latente ou escondida em distúrbios psicossomáticos
  4. Todas aquelas crianças que estão suficientemente integradas e socializadas para sofrer (quando estão doentes) com as inibições, compulsões e organizações de defesa contra a ansiedade, as quais são geralmente classificadas em conjunto sob a designação de psiconeuroses
  1. Crianças normais - quando se defrontam com anormalidades ambientais ou situações de perigo podem empregar qualquer mecanismo de defesa mas não são impelidas para um tipo de mecanismo de defesa por distorções do desenvolvimento emocional pessoal



O curioso na classificação das crianças desajustadas de Winnicott é que, quanto mais "saudável" a criança, mais aspectos existem para ser descrito. Então o espectro vai da criança que não tem nada a contribuir para um grupo - e pensei no autismo - e passa por uma série de outras estruturações possíveis, as quais vão ficando crescentemente mais complexas.
No caso das crianças antissociais, por incomodarem mais, podem parecer "mais" doentes. No entanto, a riqueza de possibilidades de manifestação (esperança) é o que dá o aspecto de esperança que marca o comportamento antissocial.

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