quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Primeiras leituras


Resolvi escrever um diário de campo, um tanto íntimo, sobre o desenvolvimento do meu Mestrado Acadêmico em Psicologia Clínica e Cultura. Tenho andado muito angustiada, com todas as ansiedades que acredito comuns a estudantes como eu, que desejam seguir esta íngreme e esburacada estrada rumo à carreira científica. Li que o mestrado acadêmico pode ser considerado como um ritual de iniciação para esta carreira. Minha cabeça antecipa a navalha. Sinto uma longa série de provações e a solidão comum ao calouro, ao recém iniciado. Acredito que poderá ser muito útil registrar minhas impressões e acompanhar meu desenvolvimento de maneira mais sistematizada.
Aqui vão pensamentos, angústias, reviravoltas, conclusões... Associação livre, enfim.
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O primeiro contato com a pesquisa já aconteceu na iniciação científica. Um ano para revisar literatura, estabelecer um problema a ser investigado, um objeto, uma metodologia, coletar dados, analisá-los, elaborar conclusões a respeito da análise.
E as malditas referências bibliográficas.
Claro que este trabalho foi realizado com a superficialidade coerente com um projeto de iniciação científica. O prazo, a limitação do objeto e da metodologia... Acredito que realizei, de fato, um trabalho um pouco mais aprofundado do que é o de costume para um projeto de iniciação científica. A orientação foi fundamental para que me sentisse segura o suficiente ao afirmar minhas conclusões. Sempre estive nos ombros de gigantes. Mas, ainda assim, subir até lá não é tarefa fácil. Fazer sair da ponta dos meus dedos as suas palavras, concluir a partir dos meus próprios dados as suas conclusões... Nada disso é óbvio ou dado. É necessário conviver com um paradoxo: a humildade para reconhecer os limites e a ousadia indispensável para identificar as potencialidades. Tudo isso emprestado e inspirado a partir da experiência dos meus brilhantes orientadores.
E depois de um ano - aí está. Pronto. O artigo e suas 20 páginas, as tabelas e os gráficos, a formatação de acordo com a diretrizes da APA, a procura por um periódico que o publique. Meu primeiro trabalho científico.
A aprovação no mestrado foi fruto deste primeiro trabalho. Todo o estudo voltado para a escrita das minhas primeiras 20 páginas certamente garantiu minha preparação para escrever a justificativa, ser aprovada e iniciar a carreira científica numa das melhores universidades brasileiras.
E eis que as aulas começaram, a carga de leitura aumenta vertiginosamente e sentimentos variados de incapacidade começam a se acumular às margens das páginas ainda não lidas.
Parece que ainda não caiu a ficha.

Leituras de hoje:
FERREIRA, M. C.; MOURA, M. L. S. Projetos de pesquisa: elaboração, redação e apresentação. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2005. Capítulo 1
Fala sobre as decisões preliminares de um projeto de pesquisa. Parece um pouco antiquado, particularmente ao descrever mecanismos de revisão literária ou mesmo de preparação/ consulta à literatura. Menciona dificuldades que pesquisadores poderão enfrentar por não terem familiaridade com o computador, etc.
Em suma, fala muito sobre familiaridade, interesse e (eu diria) desejo pela carreira científica, pela pesquisa e pelo tema escolhido. Afirma reiteradas vezes a importância da orientação, que seja coerente com o estilo da pesquisa, da abordagem, do aluno etc. Para as autoras, o mestrado é o início da carreira de pesquisador e de uma série de investigações as mais aprofundadas e específicas, e (pode) não (ser) a principal/mais importante pesquisa.
(ouch)
Fala sobre a importância do acervo pessoal do pesquisador, indexado e fichado de acordo com sua sistemática pessoal. Lembrei da minha pasta de artigos sobre Rorschach e a outra sobre psicose com um sorriso no rosto (:
Uma dificuldade é a leitura de um mínimo de outras abordagens, pois sei que isto fundamenta a crítica. Tenho lido o suficiente sobre outras maneiras de ver minha ferramenta, o objeto, a abordagem teórica?

Considerações simplificadas

Problema: pessoas em primeiras crises são psicóticas?
Hipótese comparativa: pessoas em primeiras crises não são psicóticas, mas apresentam sofrimento psíquico grave
Variável independente: primeiras crises
-definição constitutiva: vivência de período em que pela primeira vez são manifestados sinais e sintomas de estranhamento agudo.
-deifinição operacional: histórico e outros fatores promovem pródromos e sintomas do tipo psicótico
Variável dependente: psicose
-definição constitutiva: perda de contato com a realidade, processo de cronificação
-definição operacional: critérios do DSM-IV