terça-feira, 30 de agosto de 2011

Problemáticas e problemáticas

Lendo o artigo da Elsa de Oliveira, e considerando as últimas aulas. Falei em aula hoje sobre o blog e sua característica intimista, me senti mais encorajada para vomitar com força, em vez de ficar só procurando forma. Afinal de contas, minha interlocução comigo mesma não me faz só tomar no cu. Fico falando e falando, e um jeito importante de lembrar as ideias que fogem é simplesmente jot them down.
O artigo fala da importancia da teoria desenvolvida por Winnicott para a clínica, apesar de nao haver a sistematização de uma técnica, assim como Freud o fez. Na perspectiva winnicottiana, os distúrbios mentais são caracterizados por falhas ambientais em alguma fase do amadurecimento do indivíduo. Quanto mais precoce esta falha, mais grave o distúrbio mental. Isto traz considerações importantes não somente para o manejo clínco, mas também para o psicodiagnóstico. Para Winnicott, se soubéssemos bem diagnosticar, economizaríamos muito desespero e sofrimento para nossos pacientes.
Minha inquietação é se Winnicott, Rorschach e McGorry dialogam. Pq a perspectiva internacional de intervenção precoce também pontua a importancia de bem avaliar para poder intervir com ferramentas sensíveis e específicas, e aqui eu consegui justificar a metodologia de avaliação como o Rorschach, por ser rápida e eficiente, faz sentido na IP.
Já com Winnicott, dava para forçar a barra e dizer que os achados anteriores demonstravam como as crises do tipo psicótica, por mais que não dissessem sempre sobre estruturas psicóticas, estão muito mais relacionadas a dificuldades ambientais, interrupções no desenvolvimento. Isto também é verdade na clínica do gipsi, e é preciso atribuir a devida importância para o psicodiagnóstico adequado. Ai ai, nem assim ficou bom, ainda está muito forçado.
Psicodiagnóstico em Winnicott - O ambiente e os processos de maturação, as contribuições da psicanálise para a classificação psiquiátrica: neurose, depressão, tendência antissocial e psicose. Não sei se a (minha) compreensão das primeiras crises faz sentido com Winnicott. Sou do psicodiagnóstico estrutural e dinâmico, com a personalidade como contexto para a psicopatologia (nossa, sou bem mais Marcelo Tavares do que estou disposta a assumir). A interação da compreensão psiquiátrica das primeiras crises, com uma perspectiva mais psicanalítica (não necessariamente winnicottiana, porque é psicodinâmica). E o medo de pegar de winnicott só o que me faz sentido? Como fazer dialogar epistemologicamente Exner e Winnicott? E a questão da construção de política publica? E a constelação, isso ainda pode fazer sentido se eu partir do arcabouço teórico winnicottiano?

Um primeiro esboço sobre o objetivo da pesquisa:
O objetivo desta pesquisa é descrever e sistematizar aspectos estruturais e dinâmicos da personalidade de indivíduos em primeiras crises do tipo psicótico ou em fase prodrômica atendidos no gipsi, na construção de uma contelação psicodiagnóstica de pródromos.
nem sei se vou continuar com esta história de pródromos. a gente vai precisar de uma oficina metodológica só pra falar de novo sobre este conceito.

O que era antes:
O objetivo desta pesquisa é investigar, sob a ótica psicanalítica winnicottiana, dados dos protocolos de Rorschach de clientes em primeiras crises do tipo psicótica ou em fase prodrômica, atendidos pelo gipsi. Tem como objetivo específico a sistematização dos dados dos protocolos na construção de uma constelação prodrômica. A constelação teria por objetivo uma descrição específica das primeiras crises e usa compreensão sob o olhar winnicottiano, investigar em que medida pode desconstruir a consideração tradicional da psicose. O apriorismo vem do trabalho desenvolvido na cl=inica das primeiras crises no gipsi, a desconstrucao do conceito de esquisaobrenia feito por Szasz-Costa e o uso do Método de Rorschach em trabalhos anterirores, o qual pode identificar que os sujeitos não apresentam sinais clássicos de psicose. Tese da Nerícia, não sei o que aconteceu, mas parece que este trabalho vai demorar horrores, preciso que meu orientador me diga coisas neste sentido...

Continuo com a ideia de pródromos ou vou para as primeiras crises de fato? daí seria uma constelação de primeiras crises? É um aspecto dinâmico e funcional da persnalidade, já que não se trata de psicose instaurada, mas sim de um processo que pode "se reverter" com intervenções adequadas?
O que é psicose?
Como avaliar psicose?
O que são primeiras crises?
Como avaliar nas crises?
Nas primeiras crises, o estranhamento já estava presente anteriormente? Ou ele se torna agravado na medida em que as crises se repetem?
Descrever as primeiras crises pode levar a características comuns? Porque eu sempre achei um exagero ter que "construir uma psicoterapia para cada cliente". Até porque se a gente estuda desenvolvimento, ou no caso de Winnicott, amadurecimento, os apriores já existem, há expectativas muito grandes a respeito do bebê e de seu meio de desenvolvimento.
Estou quase dormindo aqui. Quando estiver melhor da cuca, eu continuo.

domingo, 28 de agosto de 2011

Influências de grupo e a criança desajustada: o aspecto escolar


WINNICOTT, D. W. (1955). Influências de grupo e a criança desajustada: o aspecto escolar. In Winnicott, 1971. Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes, pp. 215-226.
Esse eu já tinha lido, inseri novas considerações a partir da leitura anterior
O zeitgeist era que eu tava na corrida de Winnicott pra poder me livrar da influência do Zé Bigode. Mas freudiana até o talo.

Psicologia de grupos advém da psicologia individual~~
O desenvolvimento do nascimento até a morte - não se completa ou finaliza


Extensões graduais da palavra grupo dada às crianças:
família
pré-escola
lobinhos/fadinhas
escoteiros/guias
ideologias
religião
filosofia
cultura
civilização


Importância do ambiente no processo de amadurecimento em direção à integração
EU SOU
integração é criação de mundo interno, possibilitada pelo holding.
EU SOU significa perceber sua pele
e sentir-se nu.

A área intermediária, em que permanece parte da ilusão de criação onipotente, permite que um grupo seja uma realização EU SOU. O exterior(izado) não deve se tornar persecutório.

Para a criança desajustada dentro do grupo, aspectos de sua criatividade e seu sentimento de continuidade do ser foram atrapalhados por uma falta de adaptação do ambiente às suas necessidades precoces. A depender do grau de desajuste da criança, pode-se identificar a natureza da falha ambiental.

o Boby tá ca camisa sepi sujinha de sangue tiriquiti.



Classificação das crianças quanto a seu desajuste:
  1. Crianças que não se integraram em unidades e não podem contribuir para um grupo
  1. Crianças que desenvolveram um falso self (eu), o qual tem a função de estabelecer e manter contato com o ambiente e, ao mesmo tempo, proteger e ocultar o eu verdadeiro. Nesses casos, há uma integração ilusória que se desfaz assim que é admitida como ponto pacífico e convocada para uma contribuição
  1. Crianças retraídas. Neste caso, a integração foi realizada e a defesa se estabelece segundo linhas de uma redistribuição de forças benignas e malignas. Essas crianças vivem em seus próprios mundos interiores, os quais são artificialmente benignos embora alarmantes, por causa do funcionamento mágico. O mundo exterior dessas crianças é maligno ou persecutório
  1. Crianças que mantem uma integração pessoal através da ênfase exagerada na integração, e uma defesa contra a ameaça de desintegração que assume a forma de uma personalidade forte
  1. Crianças que conheceram um mundo intermediário com objetos que adquirem importância através da representação, ao mesmo tempo, de objetos internos e externos de valor. Essas crianças, não obstante, sofreram uma interrupção tal na continuidade de sua administração que o uso de objetos intermediários foi suspenso. Essas  são as crianças portadoras do comum "complexo de privação", cujo comportamento desenvolve qualidades antissociais sempre que começam de novo a ter esperanças. Roubam e anseiam por afeição e pretendem que acreditemos em suas mentiras. Na melhor das hipóteses, elas regridem de um modo geral, ou de um modo localizado, como no caso da enurese noturna, que representa uma regressão momentânea em relação a um sonho. Na pior das hipóteses, forçam a sociedade a tolerar seus sintomas de esperança, embora sejam incapazes de se beneficiar imediatamente de seus sintomas. Roubando, não encontram o que quere, mas podem finalmente (porque alguém tolera seus furtos) atingir um certo grau de nova crença em que o mundo lhes deve algo. Neste grupo há toda a gama de comportamentos antissociais.
  2. Crianças que tiveram um começo toleravelmente bom mas sofrem dos efeitos de figuras parentais com quem é inadequado para elas identificarem-se. Existem inúmeros subgrupos, como por exemplo
    1. Mae caótica
    1. Mae deprimida
    1. Pai ausente
    1. Mae ansiosa
    2. Pai de aparência austera, sem merecer o direito a ser austero
    3. Pais briguentos, a que se acrescentam condições precárias de moradia, o fato de a criança dormir no quarto dos pais etc.
  1. Crianças com tendências maníaco-depressivas, com ou sem um elemento hereditário ou genético
  1. Crianças que são normais, exceto em fases depressivas
  2. Crianças com expectativa de perseguição e tendência para se intimidarem ou para se tornarem fanfarronas e intimidarem outras. Nos meninos, isso pode constituir a base da prática homossexual
  3. Crianças que são hipomaníacas, com a depressão latente ou escondida em distúrbios psicossomáticos
  4. Todas aquelas crianças que estão suficientemente integradas e socializadas para sofrer (quando estão doentes) com as inibições, compulsões e organizações de defesa contra a ansiedade, as quais são geralmente classificadas em conjunto sob a designação de psiconeuroses
  1. Crianças normais - quando se defrontam com anormalidades ambientais ou situações de perigo podem empregar qualquer mecanismo de defesa mas não são impelidas para um tipo de mecanismo de defesa por distorções do desenvolvimento emocional pessoal



O curioso na classificação das crianças desajustadas de Winnicott é que, quanto mais "saudável" a criança, mais aspectos existem para ser descrito. Então o espectro vai da criança que não tem nada a contribuir para um grupo - e pensei no autismo - e passa por uma série de outras estruturações possíveis, as quais vão ficando crescentemente mais complexas.
No caso das crianças antissociais, por incomodarem mais, podem parecer "mais" doentes. No entanto, a riqueza de possibilidades de manifestação (esperança) é o que dá o aspecto de esperança que marca o comportamento antissocial.

Os doentes mentais na prática clínica


WINNICOTT, D. W. (1963c) “Os doentes mentais na prática clínica”, in Winnicott 1965b: O ambiente e os processos de maturação.
Leitura em espanhol, já to me acostumando (:

A enfermidade mental consiste em não ser capaz de encontrar a ninguém que possa nos suportar
  • a sociedade efetua sua própria contribuição ao significado da palavra "enfermo"


A saúde é o amadurecimento emocional do indivíduo.

Descreve o processo de desenvolvimento da neurose~~

Na psicose, mais relativa as fases anteriores, não houve um verdadeiro complexo de Édipo, já que o indivíduo se prendeu a uma fase anterior de seu desenvolvimento a ponto de nunca terem chegado a existir relações triangulares verdadeiras e plenas. A psicose concerne menos às defesas organizadas do individuo que ao fracasso dele na busca da força egóica, ou da integração da personalidade, que permita a formação das defesas. Na loucura, em vez da repressão, encontramos o inverso, processos de instauração da personalidade e diferenciação do ser.

Importância da intervenção do assistente social, já que o fator ambiental está dotado de uma significação especial na etiologia da loucura, relacionada a suas falhas

A depressão, a neurose e a esquizofrenia partilham diversas justaposições, e não faz sentido determinar etiologias diferentes

Nas depressões, há algo de originário que é essencialmente saudável: a capacidade para sentir angústia e a capacidade de inquietação. Assim, a gama das depressões abarca desde o quase normal ao quase psicótico
  • a parte analítica do tratamento da depressão reside na sobrevivência do analista durante um período que se encontra dominado pelas ideias destrutivas

No fim das contas, enfermidades mentais são padrões de compromisso entre o êxito e o fracasso no estado do desenvolvimento emocional do indivíduo
  • a tendência em direção ao amadurecimento persiste, e é a encarregada de promover o impulso em direção à cura ou em direção a autocura caso não se disponha de ajuda

Se a enfermidade mental é um compromisso entre a imaturidade do individuo e as reações sociais que se produzem, o quadro clínico do doente mental varia segundo a atitude ambiental, inclusive quando a enfermidade do paciente permanece inalterável no fundamento.

Neurose - depressão reativa - normal - depressão esquizoide - esquizofrenia

Na esquizofrenia, o acento recai sobre certas falas na construção da personalidade - clinicamente é possível o bom funcionamento da personalidade mesmo em caso esquizoide grave

No desenvolvimento, as duas tendências podem se denominar com os termos amadurecimento e dependência (uma dependência dupla - adaptação perfeita do ambiente - que se transforma em dependência simples)

O ambiente precisa se adaptar naturalmente às necessidades mutantes que vão aparecendo no amadurecimento - a mãe, portanto, tem importância fundamental

Tarefas do amadurecimento
  • integração: tempo e espaço, membrana (seu contrario é desintegração ou cisão, um rasgo, característico da esquizofrenia)

  • personalização: relação íntima entre a psique e o corpo (seu contrário é a despersonalização ou o transtorno psicossomático)

  • relações objetais: capacidade de relacionar-se com objeto e unir a ideia do objeto com a percepção da pessoa inteira a quem se permite uma existência alheia ao controle onipotente do individuo, sentindo-se e ao mundo como reais

Paranoia: componentes persecutórios que complicam a doença depressiva levam o paciente e o analista ao sadismo oral não aceito pelo individuo

Na esquizofrenia, o que se nos apresenta é um ser falso, adaptado ao que se espera dos diferentes lugares do meio ambiente do indivíduo. Assim, a forma como este falso self reage às demandas do ambiente não passa por seus processos mais criativos, os quais se mantem contidos e protegidos no verdadeiro self, interior e incomunicável. As defesas organizadas contra a angústia intolerável são essas tentativas de adaptação - e por isso são frágeis e parecem falsas, irresponsivas de toda forma…
Esta parte falsa é o "aspecto cortês e socialmente adaptado da personalidade sã" - imagina o que não é adaptado!!

O colapso mental é um indício de saúde, porquanto implica que o indivíduo goza da capacidade para aproveitar o meio ambiente posto a seu alcance, a fim de reinstaurar uma existência sobre uma base que lhe dê sensação de ser real
Naturalmente nada sai sempre bem, e a sociedade cai perplexa ao ver como um ser obediente, quiçá valioso, destrua um bom futuro ao renunciar toda uma gama de vantagens evidentes em busca de uma vantagem oculta: adquirir sensação de realidade.

A sociedade fica perplexa por descobrir outro tipo de doença: a psicopatia


NEUROSE -----------ANTISSOCIAL----------- PSICOSE

NEUROSE
  • dependência satisfeita adequadamente, relações interpessoais entre pessoas completas. Sanidade e amadurecimento, usufruto e tratamento dos conflitos do mundo interior

PSICOSE
  • falha ambiental em possibilitar os processos de amadurecimento na fase de dupla dependência (a provisão ambiental escapou por completo à percepção e compreensão da criança) ~~ privação

ANTISSOCIAL
  • falha acima do êxito: o bebê percebe a falha e reage à falha do ambiente, a qual truncou seu sentimento de continuidade existencial (pé perdido). Tendência que se apodera da criança sempre que se sente esperançoso e que, ao mesmo tempo, impõe uma atividade antissocial assim que alguém se da conta da falha do ambiente e trata de corrigi-la. À criança que se sente obrigada a buscar repetidamente sua reinvindicação a sociedade se tacha de mal ajustada", sendo que o desajuste significativo foi feito pelo ambiente com respeito às necessidades essenciais das crianças. Os exemplos mais leves levam a tendências antissociais mais comuns. Já as frustrações mais graves (falhas no apoio egóico) podem levar a transtorno de caráter ou delinquência.

"Quando as defesas se endurecem e o desengano é total, a criança que se afeta desta maneira vai em caminho de se converter em psicopata". "Mas em muitos casos, se deveria ter recorrido a um tratamento em fase precoce, antes que os benefícios secundários [do comportamento antissocial] complicassem as coisas, se tivesse sido possível existir, nas manifestações da tendência antissocial, um pedido de ajuda dirigido à sociedade, pedindo-lhe que reconhecesse sua dívida e reinstaurasse um ambiente dentro do qual o ato impulsivo da criança seria oura vez aceitável e sem riscos, como já o foi antes de se produzir o desajuste ambiental". Assim considerando a psicopatia, responder adequadamente diz respeito

Aos terapeutas de doentes não psiconeuróticos:
"Imaginem que vocês são uma espécie de cesto. As pessoas a quem atendem depositam nele todas suas esperanças e probabilidades. Para elas, isto representa um risco, por causa disso, antes de tudo precisam submetê-los a provas, para ver se vocês são sensíveis e dignos de confiança, ou para ver se saberão repetir as experiências traumáticas que eles viveram no passado. É preciso uma operação de frear, que deveria ter sido realizada lá atrás e que diminui a revolta". Isto é:

~~HOLDING~~
Começa extremamente simples e se torna mais e mais complexo sem deixar de ser a mesma coisa.
-tornar possíveis aas tendências que funcionam dentro do indivíduo e que levam a uma evolução natural que embasa o crescimento (emocional)

Mas até quando tudo vai bem… o ambiente deve ser SUFICIENTEMENTE BOM, e não espere PERFEIÇÃO.
"Quando o meio inspira confiança pode haver um convite ao colapso mental - no campo da delinquência (tendência antissocial associada à privação) isto significa que ao cobrar confiança do terapeuta, o paciente se dedica ao roubo ou a destruição, aproveitando da capacidade do cuidador de atual firmemente. No campo da loucura, o que ocorre é que o paciente faz uso da provisão especial do terapeuta com fim de chegar a desintegração, falta de controle ou dependência que são próprias do período da infância (regressão à dependência). TUDO ISSO CARREGA A SEMENTE DA CURA".


 O TERAPEUTA SUFICIENTEMENTE BOM

  • Aceita o papel de objeto subjetivo na vida do paciente - ao mesmo tempo em que mantem os pés firmemente em terra
  • Aceita o amor e o estado de enamoramento sem acting out
  • Aceita o ódio e responder com firmeza mais que com vingança
  • Tolerar a loucura - são sintomas de angústia
  • Não se assusta ou deixa dominar por sentimento de culpa quando em frente a loucura, desintegração ou tentativa (sucesso) de suicídio - sabe reconhecer o pedido de ajuda no grito de desespero ate a perda da esperança de ser ajudado
  • Se envolve profundamente com o caso, ao mesmo tempo que se mantem distanciado - saber que não se pode atribuir a responsabilidade pela doença do paciente, saber quais são os limites de poder alterar uma situação crítica.
  • Tenta fazer com que a situação não se descomponha, para que a crise se resolva POR SI SÓ.

Os doentes mentais na prática clínica

WINNICOTT, D. W. 1963c: “Os doentes mentais na prática clínica”, in Winnicott 1965b: O ambiente e os processos de maturação.
Leitura do PDF em espanhol (nem sei se é a mesma leitura, mas cabe) - Los casos de enfermidad mental

A enfermidade mental consiste em não ser capaz de encontrar a ninguém que possa nos suportar
-a sociedade efetua sua própria contribuição ao significado da palavra "enfermo"

A saúde é o amadurecimento emocional do indivíduo.

Descreve o processo de desenvolvimento da neurose

Na psicose, mais relativa as fases anteriores, não houve um verdadeiro complexo de Édipo, já que o indivíduo se prendeu a uma fase anterior de seu desenvolvimento a ponto de nunca terem chegado a existir relações triangulares verdadeiras e plenas. A psicose concerne menos às defesas organizadas do individuo que ao fracasso dele na busca da força egóica, ou da integração da personalidade, que permita a formação das defesas. Na loucura, em vez da repressão, encontramos o inverso, processos de instauração da personalidade e diferenciação do ser.

A cura

WINNICOTT, 1986f : “A cura”, in WINNICOTT, D.W. (1989). Tudo começa em casa. São Paulo, Martins Fontes.
Leitura do PDF em espanhol (considerações tecidas em portuñol - sinto minha cabeça espatifando)

A principio, misturada com religião e medicina, significava cuidado. A necessidade e a dependencia, contudo, estão atreladas ao significado de abolir a doença.
"El concepto de enfermidad legitima la dependencia - lo enfermo obtiene un beneficio especifico"
En la jerarquia curar-cuidar, la posición de quien es lo enfermo no es exacta.
Lo curador-cuidador no puede atribuir categoria moral a lo enfermo - no cabe julgarlo
Una persona enferma no podria suportar nuestro miedo a la verdad - SOMOS ABSOLUTAMENTE HONESTOS
La andiedad impensable - que puede ser de orden fisico - relacionase ao patrón de impredicible, confusión mental
Aceptamos ela amor y el odio del paciente
Cuidar-curar constitye una extensión de lo concepto de sostén
"Um sentimento de identidade pessoal, essencial para todo ser humano, que em cada caso individual só se cumpre quando se teve contato com um fazer materno suficientemente bom e uma provisão ambiental de tipo holding nas etapas precoces. Por si próprio, o processo de maturação não basta para produzir um indivíduo"

Cuidado-CURA - tendência natural de adaptação à dependência

"No que diz respeito aos males da sociedade, o cuidado-cura pode ser mais importante que o remédio-cura e que todo o diagnóstico e prevenção que implica o que geralmente se chama enfoque científico"

"É sempre tranquilizador comprovar que nosso trabalho se vincula a fenômenos totalmente naturais, com padrões universais da conduta humana e com o que esperamos descobrir nas melhores expressões da poesia, da filosofia e da religião"

Programa de estudo: Winnicott e as psicoses


A corrida da cerveja de Brasília está acontecendo bem embaixo da minha janela. Coloquei o trumpet jazz só pra não ouvir o funk automotivo e cair na tentação de colocar o tênis e descer as escadas...
Programação para estudar Winnicott (:
Falta comprar alguns livros, mas encontrei parte das obras dele em PDF - pena que em espanhol~~


1. Saúde e doença psíquicas. A importância do diagnóstico
A Cura, 1986. Tudo começa em casa.
Psiquiatria infantil, serviço social e atendimento alternativo, 1970. Pensando sobre crianças

2. Diferentes critérios de classificação dos distúrbios psíquicos
Os doentes mentais na prática clínica, 1963c. O ambiente e os processos de maturação
Variedades de psicoterapia, 1984i. Tudo começa em casa
Considerações teóricas no campo da psiquiatria infantil, 1958q. A família e o desenvolvimento individual
Classificação: existe uma contribuição psicanalítica à classificação psiquiátrica?, 1965h. O ambiente e os processos de maturação
Influências de grupo e a criança desajustada, 1965s. Privação e delinquência (em especial o item classificação de casos)

3. O conceito winnicottiano de trauma. Classificação geral dos traumas
O conceito de trauma em relação ao desenvolvimento do indivíduo dentro da família., 1989. Explorações psicanalíticas
A psicologia da loucura: uma contribuição da psicanálise, 1989vk. Explorações psicanalíticas

4. Conceito e classificação das agonias impensáveis
Ansiedade associada à insegurança, 1958d. Da pediatria à psicanálise
O medo do colapso, 1974. Explorações psicanalíticas
O conceito de regressão clínica comparado com o de organização defensiva, 1968c. Explorações psicanalíticas
A psicologia da loucura: uma contribuição da psicanálise, 1989vk. Explorações psicanalíticas
A comunicação entre o bebê e a mãe e entre a mãe e o bebê: convergências e divergências, 1968k. Os bebês e suas mães

5. Etiologia das agonias impensáveis. Estudo da falha ambiental
A mente e sua relação com o psique-soma, 1954a. Da pediatria à psicanálise
Recordações do nascimento, trauma do nascimento e ansiedade, 1958f. Da pediatria à psicanálise.
O relacionamento inicial da mãe com o filho, 1965v. A família e o desenvolvimento do indivíduo

6. As psicoses como organizações defensivas: cisão, dissociações e defesa contra o retorno das agonias impensáveis
Capítulos 1, 2, e 6 da parte IV - Natureza Humana, 1990
Psicoses e cuidados maternos, 1953a. Da pediatria à psicanálise
Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self, 1965m. O ambiente e os processos de maturação
O conceito de regressão clínica comparado com o de organização defensiva, 1968c. Explorações psicanalíticas
O gesto espontâneo, 1987. Cartas n 27, 30, 40 e 82

7. A cisão entre o verdadeiro e o falso si-mesmo
Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self, 1965m. O ambiente e os processos de maturação
Capítulos 1 e 4 da parte IV
Teoria do relacionamento paterno infantil, 1960c. O ambiente e os processos de maturação
Classificação: existe uma contribuição psicanalítica à classificação psiquiátrica?, 1965h. O ambiente e os processos de maturação (em especial o item Falso Self)

8. O medo do colapso
O medo do colapso, 1974. Explorações psicanalíticas
A psicologia da loucura: uma contribuição da psicanálise, 1989vk. Explorações psicanalíticas

9. Esquizofrenia infantil e autismo. Um caso de autismo
Serralha, C. A. (2003). "O autismo na teoria do amadurecimento humano de Winnicott". Revista Natureza Humana, v.5, n.1.
____________ (2004). "A perspectiva winnicottiana sobre o autismo no caso de Vitor". Revista Psyché, ano VIII, n. 13, jun.
Autismo, 1996c. Pensando sobre crianças
A etiologia da esquizofrenia infantil em termos do fracasso adaptativo, 1968a. Pensando sobre crianças.

10. Personalidades fronteiriças: o falso si-mesmo patológico
Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self, 1965m. O ambiente e os processos de maturação
A criatividade e suas origens, 1971g. O brincar e a realidade
Os doentes mentais na prática clínica, 1963c. O ambiente e os processos de maturação
O brincar: a atividade criativa e a busca do eu (self), 1971r. O brincar e a realidade (caso clínico)

11. Esquizofrenia latente
A mente e sua relação com o psique-soma, 1954a. Da pediatria à psicanálise
Sum: eu sou, 1984h. Tudo começa em casa
Uma nova luz sobre o pensar infantil, 1989s. Explorações psicanalíticas

12. Personalidades esquizoides
Ausência e presença de um sentimento de culpa, ilustradas em duas pacientes, 1989b. Explorações psicanalíticas (ler o segundo caso clínico)
O conceito de trauma em relação ao desenvolvimento do indivíduo dentro da família., 1989. Explorações psicanalíticas
Distúrbios psiquiátricos e processos de maturação infantil, 1965vd. O ambiente e os processos de maturação (ilustração clínica)
Objetos transicionais e fenômenos transicionais, 1953c. O brincar e a realidade (parte III - material clínico)

13. Depressão esquizoide
O valor da depressão, 1964e. Tudo começa em casa
Capítulo 1 da parte III - Natureza Humana
Os doentes mentais na prática clínica, 1963c. O ambiente e os processos de maturação

14. Ilustração clínica um caso clínico de psicose tratado por Winnicott (caso Bob)
Introdução a parte I de Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil
Bob aos 6 anos, caso 4 de Winnicott 1971b. Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil

15. O caso da moça que sonhou com a tartaruga
Dependência no cuidado do lactente, no cuidado da criança e na situação psicanalítica, 1963a. O ambiente e os processos de maturação

domingo, 21 de agosto de 2011

Dificuldades para escrever

Terminei a leitura de ontem, e agora a agonia para escrever o primeiro trabalho. Todas as ideias estão dentro da minha cabeça, mas os dedos parecem apáticos e não sabem como transcrever. eu poderia falar sobre esse assunto durante horas, mas os dedos fingem que não são com eles. Um monte de outros pensamentos, particularmente uns afetivos, invadem minha cabeça e não me deixam pensar direito. Eu queria saber como fazer para me concentrar por pelo menos algumas horas. O que eu poderia gastar duas ou três horas para escrever, estou aqui desde 10h da manhã e não passei do sexto parágrafo. São cinco da tarde e já me prometi tanta coisa, caso conseguisse me concentrar e terminar o que preciso escrever.

algumas ideias que conseguiram sair:
Melvin valoriza a ordem e a limpeza, com um consequente horror quanto à sujeira, ao que não pode ser quantificado, ao caos e à quebra de sua rotina. Pode-se dizer de um funcionamento que refere a componentes fóbicos. Um dos objetos fóbicos é a própria interação social, em que a cobrança pela perfeição o afasta por ser socialmente inapto. Melvin tem componentes homofóbicos, misógino, xenofóbico. A diferença encontrada nas interações pessoais o apavoram e criam mecanismos de agressividade que beira a violência. Ele se apresenta extremamente oposicionista, negativo e hostil, mais preocupado com a afirmação de sua autonomia e superioridade do que com as interações sociais, trocas afetivas ou de experiências. Não confia no julgamento das outras pessoas, que são consideradas menos aptas para fazer elaborações cognitivas. Elaborações afetivas parecem levar a resultados que Melvin julga previamente como errados ou inadequados. O método indutivo de tomada de decisões não é de qualquer consideração para ele, e a tentativa e erro, apenas uma perda de tempo.
No entanto, algo em sua interação o faz perceber os outros na medida em que estes são responsivos a necessidades afetivas. Assim, os outros são, em algum grau, necessários para Melvin. Por mais que pareça socialmente inapto, ele demonstra capacidade de responder social e afetivamente, desde que fortemente provocado.

sábado, 20 de agosto de 2011

Dificuldades para ler


Não estou conseguindo ler. Coisa difícil essa de ter que ficar aqui na frente do computador pensando pensando pensando. Parece que os aspectos não relacionados aos estudos predominam com uma intensidade muito maior. Preciso descansar. Preciso me divertir. Preciso resolver um série de outras coisas que não envolvam sentar e estudar. Simplesmente ler. Posso passar duas, três horas improdutivas, sem resolver nenhum dos meus problemas. Mas quando me sento à escrivaninha, bastam algumas linhas para que eu comece a resolver tudo o que havia deixado para depois. Posso organizar minha pasta, reler emails, corrigir as vírgulas do artigo, preciso escovar os dentes, vou fazer hidratação nos cabelos, ligar pra minha mãe, baixar aquele livro interessante. Qualquer coisa, menos ler.
Procrastinação acadêmica sempre foi meu nome do meio. Como vou fazer para concluir o mestrado, o doutorado, seguir carreira científica, ser professora da universidade - procrastinando?
Penso, penso, penso e me assusto. Mas sei que todo penso é torto. E acredito.
Pronto, acho que agora eu dou conta. Vou voltar a ler.

Leitura do dia:
Westen, D., Gabbard, G. O., Blagov, P. Back to the Future: Personality Structure as a Context for Psychopathology. In Krueger, R. F. & Tackett, J. L. (2006). Personality and Psychopathology. The. Guilford Press.

Elaborar respostas às três perguntas sobre personalidade e psicopatologia a partir da análise do filme "As Good As It Gets" (1997), acrescentando crítica à visão de psicopatologia apresentada.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Primeiras leituras


Resolvi escrever um diário de campo, um tanto íntimo, sobre o desenvolvimento do meu Mestrado Acadêmico em Psicologia Clínica e Cultura. Tenho andado muito angustiada, com todas as ansiedades que acredito comuns a estudantes como eu, que desejam seguir esta íngreme e esburacada estrada rumo à carreira científica. Li que o mestrado acadêmico pode ser considerado como um ritual de iniciação para esta carreira. Minha cabeça antecipa a navalha. Sinto uma longa série de provações e a solidão comum ao calouro, ao recém iniciado. Acredito que poderá ser muito útil registrar minhas impressões e acompanhar meu desenvolvimento de maneira mais sistematizada.
Aqui vão pensamentos, angústias, reviravoltas, conclusões... Associação livre, enfim.
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O primeiro contato com a pesquisa já aconteceu na iniciação científica. Um ano para revisar literatura, estabelecer um problema a ser investigado, um objeto, uma metodologia, coletar dados, analisá-los, elaborar conclusões a respeito da análise.
E as malditas referências bibliográficas.
Claro que este trabalho foi realizado com a superficialidade coerente com um projeto de iniciação científica. O prazo, a limitação do objeto e da metodologia... Acredito que realizei, de fato, um trabalho um pouco mais aprofundado do que é o de costume para um projeto de iniciação científica. A orientação foi fundamental para que me sentisse segura o suficiente ao afirmar minhas conclusões. Sempre estive nos ombros de gigantes. Mas, ainda assim, subir até lá não é tarefa fácil. Fazer sair da ponta dos meus dedos as suas palavras, concluir a partir dos meus próprios dados as suas conclusões... Nada disso é óbvio ou dado. É necessário conviver com um paradoxo: a humildade para reconhecer os limites e a ousadia indispensável para identificar as potencialidades. Tudo isso emprestado e inspirado a partir da experiência dos meus brilhantes orientadores.
E depois de um ano - aí está. Pronto. O artigo e suas 20 páginas, as tabelas e os gráficos, a formatação de acordo com a diretrizes da APA, a procura por um periódico que o publique. Meu primeiro trabalho científico.
A aprovação no mestrado foi fruto deste primeiro trabalho. Todo o estudo voltado para a escrita das minhas primeiras 20 páginas certamente garantiu minha preparação para escrever a justificativa, ser aprovada e iniciar a carreira científica numa das melhores universidades brasileiras.
E eis que as aulas começaram, a carga de leitura aumenta vertiginosamente e sentimentos variados de incapacidade começam a se acumular às margens das páginas ainda não lidas.
Parece que ainda não caiu a ficha.

Leituras de hoje:
FERREIRA, M. C.; MOURA, M. L. S. Projetos de pesquisa: elaboração, redação e apresentação. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2005. Capítulo 1
Fala sobre as decisões preliminares de um projeto de pesquisa. Parece um pouco antiquado, particularmente ao descrever mecanismos de revisão literária ou mesmo de preparação/ consulta à literatura. Menciona dificuldades que pesquisadores poderão enfrentar por não terem familiaridade com o computador, etc.
Em suma, fala muito sobre familiaridade, interesse e (eu diria) desejo pela carreira científica, pela pesquisa e pelo tema escolhido. Afirma reiteradas vezes a importância da orientação, que seja coerente com o estilo da pesquisa, da abordagem, do aluno etc. Para as autoras, o mestrado é o início da carreira de pesquisador e de uma série de investigações as mais aprofundadas e específicas, e (pode) não (ser) a principal/mais importante pesquisa.
(ouch)
Fala sobre a importância do acervo pessoal do pesquisador, indexado e fichado de acordo com sua sistemática pessoal. Lembrei da minha pasta de artigos sobre Rorschach e a outra sobre psicose com um sorriso no rosto (:
Uma dificuldade é a leitura de um mínimo de outras abordagens, pois sei que isto fundamenta a crítica. Tenho lido o suficiente sobre outras maneiras de ver minha ferramenta, o objeto, a abordagem teórica?

Considerações simplificadas

Problema: pessoas em primeiras crises são psicóticas?
Hipótese comparativa: pessoas em primeiras crises não são psicóticas, mas apresentam sofrimento psíquico grave
Variável independente: primeiras crises
-definição constitutiva: vivência de período em que pela primeira vez são manifestados sinais e sintomas de estranhamento agudo.
-deifinição operacional: histórico e outros fatores promovem pródromos e sintomas do tipo psicótico
Variável dependente: psicose
-definição constitutiva: perda de contato com a realidade, processo de cronificação
-definição operacional: critérios do DSM-IV