sábado, 10 de setembro de 2011

O que são pródromos?

O conceito de psicose é frágil. Ainda trabalha com a questão do estranhamento e distanciamento do convencionalmente concebido. Determinar o limiar para psicodiagnóstico de PSICOSE não é fácil. Uma série de considerações ainda carecem de explicitação, e não tenho uma teoria fechada que funcione, como a de Freud para a neurose. A foraclusão de Lacan não me pertence e a teoria do amadurecimento de Winnicott ainda está muito longe.
Mas de qualquer forma, a visão estruturalista de personalidade psicótica é uma coisa. Considerar pessoas em primeiras crises DO TIPO PSICÓTICA (leia-se loucura insipiente) não quer dizer identificar estruturas de personalidade semelhantes. Há diversas estruturas diferentes, inclusive estruturas neuróticas ou com transtorno de caráter, que manifestam sintomas referidos como psicóticos.
Na abordagem psiquiátrica da intervenção precoce, estes são parte da queixa, e por isto são considerados sintomas. Mas eles dão também importância a sinais de estranhamento, comuns a pessoas que podem desenvolver sintomas psicóticos. Os sinais não chegam a ser sintomas psicóticos, e podem não ser precursores ou preditores. Resta saber, para a psiquiatria contemporânea, se eles podem ser agrupados em síndrome. Tem-se utilizado o termo pródromos para estes sinais e sintomas. São considerados precursores do espectro sindrômico de mais frágil conceituação, que é a psicose. Não espere que sua conceituação seja fácil. Psiquiatras na pesquisa sempre têm de partir de bases muito mal estruturadas para elaborar seus conceitos, já que são médicos e não podem contar com etiologias derivadas dos sistemas anatômicos ou da fisiologia.

Os psicanalistas nadam em construtos abstratos, e os lacanianos então, incompreensíveis. São de boa definição conceitual e operacional para os iniciados. Mas não dão respostas definitivas. Diferentes estruturas de personalidade apresentam manifestações comportamentais (sinais) e queixas (sintomas) semelhantes. Compreendê-los na especificidade não é verificar o que têm de mais semelhantes uns com os outros (como o faz a psiquiatria ao estruturar síndromes), mas o que têm de mais diferente e específico na individualidade.

Meu caminho, no entanto, é tomar parte do método psiquiátrico, o nomotético, mas na construção de uma constelação de SINAIS DE PERSONALIDADE presentes em um método projetivo que descreve o que estas pessoas têm, afinal, de semelhante. Estes sinais seriam compreendidos a partir de uma perspectiva psicanalítica de personalidade (Winnicott? Ambiente e processos de maturação? Teoria das relações objetais?) e a constelação pode levar à elaboração de estratégias de intervenção, tratamento e cuidado específicos para esta clientela. Ou para questões aonde a atenção deverá se direcionar, num primeiro momento, em programas que atendam esta clientela.

Claro que não existem blocos fechados de intervenções psicoterapêuticas, mas algumas sugestões sobre as especificidades de um grupo que compartilha semelhanças importantes (de alguma forma foram considerados loucos ou psicóticos) podem auxiliar na busca das idiossincrasias. Afinal, somos mais semelhantes do que diferentes, de fato, e a impossibilidade de encontrar estas semelhanças entre pessoas pode ser fator que influencia sobremaneira o isolamento e o retraimento (a loucura ou psicose).



No fim das contas, discordamos mais que nos entendemos. Quanto mais acumulamos conhecimento, mais nos confundimos. Mas assim caminha a humanidade.

Um comentário:

  1. Esta última linha era uma consideração feita sobre os psicanalistas entre si, mas tive que generalizar para toda a raça humana, só de ódio. HAHAH

    ResponderExcluir