quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Investigando psicanaliticamente as psicoses


Lendo
Tenenbaum, D. (1999) Investigando Psicanaliticamente as Psicoses. Rio de Janeiro: Sette Letras.

Ouvindo


Freud (O futuro de uma ilusão, o mal estar na civilização) - a religião é uma psicose em massa, "exemplo vivo de que a loucura é a fuga de uma realidade frustradora e o delírio, a (re)criação da realidade mais de acordo com o princípio do prazer" (p. 14)
Mas e quanto aos fenômenos sociais envolvidos na crença ou ilusão social? as religiões podem ser continentes para a vivência de tensões psicológicas importantes. além disto, a partilha de um fenômeno psicótico ocorre em situações de grande intimidade e segurança (como no setting terapêutico) e não existe isto de "delírio compartilhado". A reconstrução da realidade numa dimensão social não é propriamente regida pelo princípio do prazer, como ocorre com fenômenos psicóticos (individuais). "Ao contrário, estas crenças oferecem segurança e amparo contra os infortúnios da vida em troca da realização dos desejos e anseios individuais. Isto está mais para os ditos instintos do ego do que do id" (p. 15). Na psicose, a reconstrução da realidade é a elaboração secundária o processo primário que invadiu a consciência (inconsciente a céu aberto).

Evolução do conceito de psicose
Castigo divino, problemas hormonais, distúrbios na localização das funções psíquicas superiores.
Alienatio mentis, insanidade.
Idade medieval - concepção demoníaca da loucura.
1300 - literatura especializada de forma de tratamento específico para os problemas mentais, a persuasão moral (p. 17)
Renascentismo - paralelismo entre fenômenos psíquicos e nervosos.
Phillipe Pinel - nosografia psiquiátrica com observação sistemática dos fenômenos.
Braid, Charcot - mesmerismo, hipnose (sugerir um estado subjetivo)
Escola alemã: Kraeplin, Bleuler, Freud
Contemporaneidade: CID não faz mais uso da palavra psicose.

Freud, 1923 (Uma breve descrição da psicanálise)
"Não se poderia duvidar que as neuroses e psicoses não estão separadas por uma linha rígida, mais do que estão a saúde e a neurose, e era plausível explicar os misteriosos fenômenos psicóticos pelas descobertas a que se chegou nas neuroses, que até então haviam sido igualmente incompreensíveis".
Trabalho sobre afasias - novo tipo de estudo para problemas funcionais que "simulam" alterações topográficas, portanto um novo enfoque epistemológico

*Anna O.*
Histeria, histérico(a): produção mental em oposição a sintoma orgânico (depois de Freud, toda uma construção complexa de estrutura e dinâmica psíquicas mediante a influência de fatores internos e externos, conscientes e inconscientes, egoicos, instintivos e superegoicos. Uma neurose. Seria o mesmo com a esquizofrenia/psicose?)
Pelos sintomas descritos no terceiro parágrafo da pág. 24, Anna O. poderia ser diagnosticada (pelo DSM-IV) com Transtorno no Humor Bipolar tipo II, com ciclagem rápida e Transtorno de Conversão. Era psicótica e neurótica. Aff...
Estados psíquicos propícios à encenação de situações ainda não adequadamente elaboradas, seja por terem sido excessivas ou por incompetência egoica. Há "uma limitação da consciência e uma compulsão a associar semelhante àquela que ocorre nos sonhos" (vol II, p. 142)
Possibilidade de coexistência entre lucidez de consciência e inconsciência psicológica lacunar devido a um duplo, concomitante, nem sempre paralelo, mas sim interseccional, funcionamento mental (p. 25)
"O que os psiquiatras chamas de psicose instalada nada mais é do que a adaptação do ego à vivência psicótica em si ou, em outra terminologia, é a expressão do funcionamento mental que passou por uma experiência de desorganização" (p. 26, cronica?)

"em ambos os casos [de neurose] até aqui considerados, a defesa contra a ideia incompatível era efetuada separando-a de seu afeto; a ideia permanecia na consciência, anida que enfraquecida e isolada. Há, entretanto, uma espécie de defesa, muito mais poderosa e bem sucedida. Aqui o ego rejeita (verwerfung?) a ideia incompatível juntamente com seu afeto e comporta-se como se a ideia jamais lhe tivesse ocorrido. Mas a partir do momento em que tenha conseguido, o sujeito encontra-se numa psicose, que só pode ser qualificada como confusão alucinatória" (Vol. III, parte III, as psiconeuroses de defesa, a alucinação positiva é trabalho da alucinação negativa do verwerfung?)

-Esmagamento ou aniquilamento do ego por sentimentos (em outros momentos, ideias) inconscientes, sobre as alucinacoes corresponderem à irrupção de pensamentos insconscientes, sobre as interpretacoes autorreferentes destes pacientes se relacionarem ocm lembranças reprimidas e a ideia de que a psicose desfaz sublimacoes e identificações" (p. 27)

Autoacusações – “obsessões correspondiam ao retorno de autoacusações reprimidas pela autodesconfiança e pela conscienciosidade, enquanto que nas psicoses as autoacusações seriam reprimidas pela projeção, retornado na forma de delírios e alucinações Assim, sintomas de retorno do reprimido, os delírios e as alucinações eram entendidos como autoacusações que retornavam sob a forma de pensamentos ditos em voz alta, distorcidos e deslocados no conteúdo e no tempo. Os sintomas de defesa secundária eram os delírios interpretativo, responsáveis pela alteração do ego.

Diretamente relacionadas à consciência de si, Freud considerava as autoacusações como uma decorrência natural da emergência de ideias incompatíveis com a representação que o indivíduo tinha, ou se esforçada por ter, de si mesmo. Através dos sonhos Freud começou a revelar o conteúdo destas não mais ideias, agora desejos”(p. 27).

“Segundo suas observações, qualquer pessoa dependendo de sua predisposição, da situação emocional do momento e da forca traumática da situação em si, poderia apresentar a sintomatologia decorrente da invasão abrupta do processo primário de pensar na consciência” (p. 28)



Verwerfung - rejection, dismissal *recusa*
Verneinung (synonym to leugnung) - negation, negative
Verleugnung - re-negation (?), denial, disownment *rejeição






Gradiva de Jansen
Freud: “Em primeiro lugar, o delírio pertence ao grupo de estados patológicos que não produzem efeitos diretos sobre o corpo, mas que se manifestam apenas por indicações mentais. Em segundo lugar, é caracterizado pelo fato de que nele as 'fantasias' ganharam a primazia, transformando-se em crença e passando a influenciar as ações” (vol. 9, p. 51). O ato de Hanold não se interessar mais pela vida estava relacionado ao abandono do amor infantil, e este fato é o delírio, a crença desenvolvida a partir da primazia da fantasia: compulsão à repetição do processo primário de pensar.

Tenenbaum: “Para começarmos a retirar o véu de confusão em relação às psicoses, é necessário não mais identificarmos psicose com surto psicótico, agitação psicomotora ou qualquer outro quadro agudo. O delirante não é necessariamente um ser sem capacidade cognitiva, mentalmente inarticulado ou incapaz de viver a vida, embora possa apresentar, e geralmente apresenta, algum comportamento bizarro” (p. 30).
Freud: “não é preciso que uma pessoa sofra de um delírio para se comportar de maneira análoga. Ao contrário, uma pessoa, mesmo saudável pode com frequencia enganar-se quanto aos motivos de um ato, tomando consciência dos mesmos só depois do evento” .


Freud
"desenvolve o raciocínio de que estas experiências (de ser vigiado) nada mais seriam do que projeções na realidade (com a finalidade análoga à repressão) de um agente crítico existente no ego, o ideal do ego, cuja função exposta pela primeira vez neste rtigo, é a de vigia dos padrões  éticos e morais da humanidade. Estamos cansados de ver pessoas  culturalmente importantes sem o menor padrão ético e moral, assim como pessoas culturalmente importantes com graves problemas egóicos e pessoas egoicamente inteiras, mas sem a menor expressão cultural".
"Afinal, a idéia a respeito do alto preço que se paga para ser ético e culturalmente participante é antiga em Freud. Talvez ele  sentisse assim..."
"condicionar  os desejos, as motivações, os comportamentos e as relações humanas a um questionável objetivo energético com um fim em si mesmo".
(p.40)

"Aqui, realçando a relação com o ego, a psicose passa a ser chamada de neurose narcísica"


"A realidade não é remodelada ou reconstruída. Apenas fragmentos dela - *exatamente aqueles relacionados à experiência existencial (real ou mental) intolerável, por isso mesmo rejeitada (verleunung) ou recusada (verwerfung)* - são interpretados e reinterpretados delirantemente. (...) o delírio é o resultado da articulação entre processo primário e processo secundário feita por um ego em algum grau desorganizado, em outras palavras, é o retorno do reprimido administrado por um ego que passou pela experiência de desorganização. (...) o afastamento da realidade nas psicoses é secundário à derrota do ego frente ao id. É a deformação do ego acarretada pela invasão do processo primário depensar que torna ievitável a deformação da realidade" (p. 70)

"Lacunas cognitivas, verdadeiros vazios intrapsíquicos, que além de tornar o ego parcialmente incapacitado, podem ser preenchidos por elementos do Processo Primário de Pensar, criando verdadeiros núcleos psicótiocs, os quais podem ser acionados por circunstâncias específicas da convivência (interação ambiental) provocando crises psicóticas (não necessariamente uma psicose) (p. 88, sobre Eksterman, A (1986). Lacunas Cognitivas no Processo Psicanalítico, Boletim Científico da Sociedade Brasileira de Psicanálise, n. 6).

O pricótico retira ou desvia seu interesse na realidade? "O psicóticonao deixa de se relacionar com a realidade, apenas o faz de maneira  peculiar. (...) A mairoia doas seres humanos relaciona-se, na maior parte do tempo de sas vidas, trliangularmente (pessoas e coisas [mas eu diria pessoas e leis]), enquanto que os psicoticos relacionam-se diadicamente com a realidade (pessoas e coisas) quase o tempo todo" (p. 93)


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