sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Psicologia da Loucura e o conceito de trauma

Winnicott, D. W. (1965). A psicologia da Loucura: Uma Contribuição da Psicanálise. In: Winnicott, C.; Shepherd, R. & Davis, M. (1994). Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 94-101.

"Por 'psicose' se quer dizer uma enfermidade que tem seu ponto de origem nos estágios do desenvolvimento individual anteriores ao estabelecimento de um padrão individual de personalidade (p. 95)".

Posso incluir na necessidade da intervenção precoce multidisciplinar intensa uma possível explicação da relutância dos psiquiatras não-psicodinâmicos em aceitar a esquizofrenia como um fenômeno psicológico:
"Todo psiquiatra possui uma carga imensa de casos graves. Está sempre sendo ameaçado pela possibilidade de suicídio entre os pacientes que se acham a seu cuidado imediato e existem pesados ônus associados com a tomada de responsabilidade pela certificação e decertificação, bem como com a prevenção de ciosas como o assassinato e o mau trato de crianças. Além disso, o psiquiatra tem de lidar com a pressão social, uma vez que todos aqueles que precisam de proteção quanto a si próprios ou precisam ser isolados da sociedade inevitavelmente vêm acabar sob os cuidados dele e, ao final, não pode recusá-los (pp. 95-96)".

"Deve-se deixar aberta a porta para a formulação de uma teoria em que uma certa experiência de loucura, seja o que for que isso possa significar, é universal"

Medo da loucura: elementos que se acham fora do funcionamento da lógica

A loucura original pertence a um estágio muito anterior à organização no ego dos processos mentais que abstraem as experiências catalogadas e apresentam-nas ara uso em termos de lembrança consciente.
"A loucura que tem que ser lembrada só pode ser lembrada em seu reviver (p. 98)".

"O paciente acha-se então sob uma compulsão - surgida de alguma premência básica que os pacientes têm no sentido de tornarem-se normais - de chegar à loucura e a necessidade de ser louco. (...) Pode-se ver, que se, em tal caso, o colapso é atendido por uma premência psiquiátrica à cura, todo o sentido do colapso é então perdido, pois, ao entrar em colapso, o paciente tinha um objetivo definido e o colapso não é tanto uma enfermidade quanto um primeiro passo no sentido da saúde (p. 99)".

As defesas se organizam em torno da ansiedade:
"no caso mais simples possível, houve portanto uma fração de segundo em que a ameaça da loucura foi experienciada, mas a ansiedade [ou agonia] neste nível é impensável. Sua intensidade acha-se mais além da descrição e novas defesas organizaram-se imediatamente, de maneira que a loucura, de fato, não foi experienciada. Por outro lado, contudo, ela foi potencialmente um fato (p. 100, grifo meu)".

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O conceito de trauma em relação ao desenvolvimento do indivíduo dentro da família (1965, pp. 102-105)

A natureza do trauma envolve fatores externos, ou seja, é do domínio da dependência. O trauma rompe a idealização do objeto pelo ódio advindo do indivíduo. O ódio é reativo ao fracasso desse objeto em desempenhar sua função: uma adaptação perfeita. Em certa medida, todos somos "traumatizados" por fracassos do ambiente, mas apenas quando a falha ocorre em um tempo ou dimensão que são incompreensíveis para o bebê, ou que ele seja incapaz de tolerar, aí sim decorre um trauma no sentido estrito do termo.

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