segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Narcisismo e apassivação

Varella, M. R. D. (2008). Narcisismo e apassivação. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília.

O aspecto totalizante da excitação das zonas erógenas, que antecede a integração do corpo unificado, é também fonte de angústia, já que tem como característica uma unidade, uma fragmentação, implicando uma desintegração da imagem corporal.

Contudo, podemos compreender como o seio-boca, fonte de satisfação da necessidade, de excitação e causa de prazer, representa um fragmento que tem o caráter de ser, ao mesmo tempo, audível, visível, tátil, olfativo e nutritivo, numa totalidade de prazeres. A boca torna-se "o representante pictográfico e metonímico das atividades do conjunto de zonas" e o seio - "será representado como fonte global e única dos prazeres sensoriais". Dessa forma, seio-boca, "zona-objeto complementar", constitui-se fantasia originária, numa relação complementar e de intepenetração recíproca. Essa complementaridade faz com que o desprazer, resultante da ausência ou inadequação por excesso ou falta, seja vivido como ausência ou inadequação da própria zona. Daí decorre que, nesse período precoce, as falhas ambientais ainda não possam ser experienciadas desta forma pelo bebê, e os "defeitos" do ambiente são vivenciados como falhas do próprio bebê. A rejeição do objeto implica a rejeição da zona, sendo que o dilaceramento e a rejeição entre a zona e o objeto são a representação de ódio presente em Thanatos, que quer destruir aquilo que traz excesso ou falta, e Eros, que quer totalizar, unificar, apaziguar (p. 79-80). Winnicott critica a necessidade de uma pulsão específica como Thanatos, e atribui a outros fatores a raiz da agressão.

-Aulagnier (1975). A violência da interpretação. Do pictograma ao enunciado. Rio de Janeiro: Imago, 1979, p. 53.

--fusão dos objetos parciais: imagem do objeto-zona complementar
-Ver sobre pulsão de vida e de morte em O inconsciente.

Husserl: O Eu é a transformação da afetação, em sentimentos das imagens, em representação de ideias, que coincide com a constituição mesma do inconsciente, num processo que nunca cessa de ser elaborado (p. 82).

A percepção é um fator importante no processo de formação do Eu, mas que também está submetido aos investimentos e às transformações libidinais, que estão na origem do Eu e fundam a realidade psíquica.

Narcisismo primário e denegativa
(ou denegação, A negativa, 1925).

O processo primário difere do secundário pelo reconhecimento que se estabelece da separação de dois espaços corporais. Tal reconhecimento, advindo da experiência ausência-presença, é representado pela relação que une o separado, na identificação com o desejo do outro, no qual se reconhece e se nega a separação.

O processo de alucinação

Freud, 1911b: Formulações sobre os dois princípios do acontecer psíquico.
"foi preciso que não ocorresse a satisfação esperada, que houvesse uma frustração, para que essa tentativa de satisfação alucinatória fosse abandonada. Em vez de alucinar, o aparelho psíquico teve então de se decidir por conceber as circunstâncias reais presentes no mundo externo e passar a almejar [desejar] uma modificação deste" (p. 66).

Uma nova função passa a ser utilizada: não mais se espera que as impressões sensoriais apareçam, vai-se ao encontro delas. A realidade passa a ser modificada pelo agir: "a realidade do pensar torna-se equivalente à realidade exterior e o mero desejar já equivale ou equipara-se até mesmo à ocorrência do evento desejado".

Narcisismo primário e estágio do espelho

No processo de incorporação, "a identificação direta e imediata da representação especular captura o filho que existe como a mãe que o vê".

Ética e responsabilidade
+
Pensamento consequente

culpa e moral


Análise do delírio
"uma crença profunda que o sujeito apresenta e que não provém de seus elementos falsos e nem é motivada por uma incapacidade de julgamento. Acontece que existe uma parcela de verdade oculta em todo delírio, um elemento digno de fé, que é a origem da convicção do paciente, a qual, portanto, até certo ponto, é justificada" (Freud, 1907, Gradiva de Jansen, p. 83)

--"Em certo sentido, portanto, o paranoico tem razão, pois ele reconhece algo que escapa à pessoa normal: vê com clareza maior do que alguém de capacidade intelectual normal, mas o que ele reconhece faz com que seu reconhecimento não tenha valor" (Freud, 1901. Psicopatologia da vida cotidiana, p. 221).

Conclui, portanto, que o sentimento de convicção do paranoico é justificado, pois há algo verdadeiro nele. Mas este saber perde o valor, pois não é assumido como pertencente ao próprio sujeito, e sim como se fosse de um outro.

Freud enfoca que as pessoas que não se libertam completamente do estágio do narcisismo, que se encontram aí fixadas, acham-se expostas ao perigo de que uma força intensa dessa libido, ativada por algum motivo e não encontrando escoadores, venha a produzir uma sexualização das relações sociais, desfazendo sublimações que haviam sido alcançadas no curso do desenvolvimento.


---Sartre, J.-P. (2012). Com a morte na alma. Rio de Janeiro: Nova fronteira. Trabalho originalmente publicado em 1949.

"Não são verdadeiros, pensou, são os sósias. Onde andam os verdadeiros? Em qualquer lugar, mas não aqui. Ninguém está aqui de verdade; eu não mais que os outros" (p. 38).

Winnicott - "Pode-se dizer que uma proteção do ego suficientemente boa pela mãe (em relação a ansiedades inimagináveis) possibilita ao novo ser humano construir uma personalidade no padrão da continuidade existencial. Todas as falhas que poderiam engendrar a ansiedade inimaginável acarretam uma reação da criança, e esta reação corta a continuidade existencial. Se há recorrência da reação desse tipo de modo persistente, se instaura um padrão de fragmentação do ser. A criança cujo padrão é o de fragmentação do ser tem a tarefa do desenvolvimento que fica, desde o início, sobrecarregada no sentido da psicopatologia. Assim, pode haver um fator muito precoce (datando dos primeiros dias ou horas de vida) na etiologia da inquietação, hipercinesia e falta de atenção (posteriormente designada como incapacidade de se concentrar)" (p. 59)

A integração do ego no desenvolvimento da criança (1962)
O caos da desintegração pode ser tão "ruim" como a instabilidade do meio, mas tem a vantagem de ser produzido pelo bebê e por isso de ser não ambiental. Está dentro do campo de onipotência do bebê.

Provisão para a criança na saúde e na crise (1962)
"O padrão consiste em nos identificarmos de algum modo com o indivíduo, de tal maneira que possamos prover aquilo de que ele necessita a qualquer momento" (p 67)

Séchehaye (1951). Symbolic Realization. New York: University Press.
--Aspecto central no tratamento da esquizofrenia, caracterizada pela incapacidade de estabelecer relações objetais



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