sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Regressão e organização defensiva

Winnicott, D. W. (1967). O conceito de regressão clínica comparado com o de organização defensiva. In: Winnicott, C.; Shepherd, R. & Davis, M. (1994). Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 151-156.

"Podemos adotar este curso, acredito, sem nos separar da fonte de nosso trabalho, que deve ser sempre os seres humanos que vêm até nós ou que nos são trazidos por causa das dificuldades da vida" (p. 151).

Esquizofrenia -- regressão
                     -- organização de defesas

Seja lá o que for que já é conhecido ou será descoberto a respeito da bioquímica, da neuropatologia ou da farmacologia relativa à esquizofrenia, existirão ainda lá os pacientes, pessoas como nós, com uma história em casa caso do desencadeamento do transtorno e com uma carga de esforço e sofrimento pessoais, com um meio ambiente que é simplesmente mau ou bom ou, então, que confunda a um grau que pode ser desnorteante até mesmo relatar" (p. 152).

No contexto da psicose, o enunciado do desenvolvimento em termos de progressão de zonas erógenas não é tão útil quanto o é a ideia da progressão da dependência absoluta rumo à independência ----> provisão ambiental.

No desenvolvimento da criança psicótica, o meio ambiente pode continuar a ser um fator adverso, por causa do fracasso do indivíduo em obter suficiente autonomia: Envolvimento do paciente identificado no jogo do casal: Palazzoli)

Na psiconeurose, ao contrário, a pista para o conflito subjacente reside dentro do indivíduo.

Em contraste, a psicose envolve as pessoas na elucidação de uma cisão na pessoa do paciente, o extremo de uma dissociação: "A cisão toma o lugar do inconsciente reprimido do psiconeurótico" (p. 152).

A cisão pode aparecer em várias formas de dissociação:
-Falso e verdadeiro self;
-Vida intelectual ex-cindida do viver psicossomático (mente-psique)

Uma pessoa pode padecer de expectativas patológicas oriundas do meio ambiente.

Mara Selvini Palazzoli também sabe disso, Winnicott!

A dependência inicial continua a ter significado, especialmente na adolescência e, talvez, de maneira disfarçada, através de toda a vida.

As crianças que não foram significantemente decepcionadas na etapa de dependência absoluta puderam construir uma estrutura de autoconfiança sobre a acumulação da confiabilidade introjetada. Elas acreditam na realidade e confiabilidade de si mesmas e do mundo. É difícil entender uma outra criança que carrega consigo, por toda a vida, agonias impensáveis decorrentes de deficiências na confiabilidade do meio. Um ambiente instável fracassa por ser imprevisível e intrusivo: ele interrompe a continuidade do ser e exige que o bebê reaja (falsamente, não por impulso próprio).

Regressão: retroação em direção oposta ao desenvolvimento, seja por bloqueio ao crescimento, seja por uma provisão ambiental que permita a dependência.

A regressão à dependência, mais ou menos relativa, mais do que uma ou outra zona erógena especifica.

As agonias impensáveis  estão relacionadas à fração de segundo antes da organização de novas defesas frente ao trauma (que é o impacto provindo do meio ambiente antes que o indivíduo possa prevê-lo, compreendê-lo e tolerá-lo).
Elas podem ser classificadas em termos da quantidade de integração que sobrevive ao ataque.
O resultado do trauma é certo grau de distorção no desenvolvimento: "a raiva implicaria a sobrevivência do ego e uma retenção da ideia de uma experiência alternativa em que o 'desapontamento' não ocorreu"

Pânico: horror organizado para proteger o indivíduo contra o impredizível (num momento tal de dependência que o indivíduo não poderia suportar tamanho fracasso).

Abandonar a invulnerabilidade (autismo) criada pelos medos e tornar-se sofredor.

"Escolher" a deficiência mental ao horror do sofrimento vinculado ao viver genuíno.

"À medida que progredimos e o paciente alcança confiança em nós em grande escala, então nossos equívocos e fracassos se tornam novos traumas. Aprendemos a esperar uma sensibilidade crescente por parte do paciente e começamos a imaginar se é a bondade ou a crueldade que nos motiva" (p. 155).

Nenhum comentário:

Postar um comentário