sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Medo do colapso

Winnicott, D. W. (1963). O medo do colapso. In: Winnicott, C.; Shepherd, R. & Davis, M. (1994). Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre: ArtMed, pp. 70-76.

Experiências passadas do indivíduo e caprichos ambientais.
Colapso (breakdown): fracasso da organização defensiva.

"Notar-se-á que embora haja valor em pensar que, na área das psiconeuroses, é a ansiedade de castração que faz por trás das defesas, nos fenômenos mais psicóticos que estamos examinando é um colapso do estabelecimento do self unitário.
O ego organiza defesas contra o colapso da organização do ego e é esta organização a ameaçada. Mas o ego não pode se organizar contra o fracasso ambiental, na medida em que a dependência É um fato da vida" (p. 71)

-Inversão do processo de amadurecimento

Holding --> Handling --> object presenting

Desenvolvimento integrador
Indwelling (personalização): conluio psicossomático ----> relacionamento objetal

Agonias primitivas
-Retorno à não-integração --- defesa: desintegração)
-Cair para sempre (gravidade) --- defesa: self holding
-Perda do conluio psicossomático --- defesa: despersonalização
-Perda do senso de real --- defesa: exploração do narcisismo primário
-Perda da capacidade de relacionamento de objeto --- defesa: estado autista

A enfermidade psicótica como defesa
A agonia subjacente à defesa é impensável. A enfermidade psicótica é "uma organização defensiva relacionada a uma agonia primitiva, e é geralmente bem-sucedida (exceto quando o meio ambiente facilitador não foi deficiente, mas sim atormentador, que é talvez a pior coisa que pode acontecer a um bebê humano)" (p. 72).



O medo do colapso é o medo de um colapso que já foi experienciado.
"É um medo da agonia original que provocou a organização de defesa que o paciente apresenta como síndrome de doença.
A experiência original da agonia primitiva não pode cair no passado a menos que o ego possa primeiro reuni-la dentro de sua própria e atual experiência temporal e do controle onipotente agora (p. 73)".

A agonia original é um fato que o indivíduo carrega consigo, escondido no inconsciente que é tudo aquilo que foi vivido, mas que a integração do ego não foi capaz de abranger na área de onipotência. A regressão à dependência, na análise, permite ao indivíduo reviver a agonia na transferência e, se o analista foi suficientemente bom, tornar o inconsciente (não reprimido, mas não integrado) capaz de emergir à consciência. Caso contrário, o indivíduo busca o detalhe passado no futuro: a agonia primitiva passada se transforma, definitivamente, em ansiedade (e, consequentemente, em medo).

A transferência permite que o indivíduo gradualmente reúna o fracasso original do meio ambiente, atualizado nas falhas do analista, dentro da área de sua onipotência.

O diacrônico impossível e esquisito se torna sincrônico e possível. Libertador.

O medo da morte é similar ao medo do colapso e, no mais das vezes, faz uso da religião para ser negado e postergado para o futuro mais distante.
Morte fenomenal: envio do corpo a uma morte que já aconteceu na psique (suicídio).

"Tudo o que lhe peço é que me ajude a cometer suicídio pela razão certa e não pela razão errada".
A alternativa delirante: eu estou morto - querem me matar.

A morte, para o ego primitivo, é o aniquilamento: a continuidade do ser é interrompida para sempre; isto é, não há como entender que a intrusão terá fim (uma espera de meia hora para um recém-nascido?)

Medo do vazio: nada de proveitoso aconteceu quando poderia ter acontecido.

O vazio primário é o antes de começar a se encher. "Na prática, a dificuldade é que o paciente teme o horror do vazio e, como defesa, organizará um vazio controlado, não comendo ou não aprendendo, ou então, impiedosamente o encherá por uma voracidade que é compulsiva e parece louca. Quando o paciente pode chegar ao próprio vazio e tolerar esse estado por causa da dependência no ego auxiliar do analista, então receber em si pode começar a ser uma função prazerosa" (pp. 75-76).

Na análise de psicóticos, experienciar equivale ao lembrar da análise dos neuróticos. Em ambos os casos, apenas na transferência a regressão, e consequente afrouxamento das feresas, é possível.

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